domingo, julho 31, 2005

branco


Swan


“Lo que tu as de hacer será no hacer nada, procura en esa nada sumargirte… Lo que importa es preparar tu corazon a maneira de um papel blanco, donde la divina sabiduria pueda formar los caracteres a su gosto.”

Guia espiritual de Miguel de Molinos

sábado, julho 30, 2005

patriotismo...


dulcelife

...com sabor a morango.

sexta-feira, julho 29, 2005

cadeia lll


Cadeia da Relação, Porto


Ainda podes ver mãos por entre as grades
e ouvir as vozes dos presos que o trânsito
do fim do dia não consegue abafar.

Se olhares, verás um edifício sinistro
reabilitado. As enxovias albergam agora
exposições estranhas àquele corpo de sombras.

Não te enganes, este é o mesmo granito
que veste a cidade, mas muito amargo e triste.
Fecha a porta desta visão e devolve-te à vida.

laerce

cadeia ll


Sala do tribunal, Cadeia da Relação, Porto


Não faças barulho para não acordar outros passos.
Das paredes podem surgir rostos acusadores
e o eco das sentenças desabar sobre o teu sono.

Podes aproximar-te da janela e notar a sombra
no chão tratado. Mas não tenhas ilusões. Não és tu!
São os que saíram daqui de cabeça baixa e mãos amarradas.

Avança suavemente para a porta de saída
e desvia o olhar para o centro vazio da sala.
Cuidarás ter visto o mar profundo quando afloraste a superfície.


laerce

cadeia


Pátio dos presos, Cadeia da Relação, Porto


Abre as portas da prisão e desprende os desejos.
Dá-lhes a liberdade dos bancos dos jardins
ou o anonimato de multidões nas ruas.

Pinta de branco as paredes da tua mente.
Passa tinta fresca pelas grades para as calcinar
na memória das mãos dadas que segredam carícias.

Sorri porque és livre, embora conserves
na tua alma as marcas de um lugar que visitarás
com a curiosidade de um turista acidental.


laerce

quinta-feira, julho 28, 2005

pessoas


Hopper

Ah a frescura na face da não cumprir um dever!
Faltar é positivamente estar no campo!
Que refúgio o não se poder ter confiança em nós!
Respiro melhor agora que passaram as horas dos encontros.
Faltei a todos ,com a deliberação do desleixo.
Fiquei esperando a vontade de ir para lá, que eu saberia que
não vinha.
Sou livre contra a sociedade organizada e vestida.
Estou nu e mergulho na água da minha imaginação
É tarde para eu estar em qualquer dos dois pontos onde estaria
à mesma hora.
Deliberadamente à mesma hora…
Está bem, ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico.
É tão engraçada esta parte assistente da vida!
Até não consigo acender o cigarro seguinte…Se é um gesto.
Fique com os outros , que me esperam no desencontro que é a
vida.

Poesia de Álvaro de Campos

quarta-feira, julho 27, 2005

anjo


G. O'Keeffe, Blue River

É assim o rio que os meus olhos desejam.
Caudaloso e contido em margens verdes,
sem pontes traiçoeiras na travessia.

Um rio que não tenha anjos de pedra.
Que os anjos dourados se escondam soltos pelas ramagens,
atentos aos risos e aos passos alegres das crianças.


É assim que vejo o rio nos meus olhos.
Revolto e rumoroso. De rochas nuas e insensíveis.
Com os verdadeiros anjos de atalaia.



laerce

terça-feira, julho 26, 2005

sabores...


foto by lardus

...de um dia de verão com chuva.
Refrescante forma de sentir ou de olhar.

segunda-feira, julho 25, 2005

celebração


Foto by Ilhéu


Com a naturalidade das flores,
aguardo a tua chegada
e sei que não será uma miragem.

Espero, presa às minhas raízes vivas,
que me devolvas o sorriso em pétalas
espontâneas de seda pura.

Como um deserto rugoso e sábio,
anseio as gotas sonoras e ávidas
da tua voz, para a celebração da vida.


laerce

domingo, julho 24, 2005

diante...


W. Hannum, Blue sur Hills


...das serras, como numa catedral de muitas religiões, podemos ver figuras sagradas, desenhadas nas nuvens ou na tonalidade da vegetação. Figuras que nos lembram o princípio dos tempos e nos mostram o tamanho real do nosso corpo e do nosso espírito.

sábado, julho 23, 2005

marca de água


Judy Mandolf, Shells


Escolho o mar como marca de água
para o corpo de palavras
que sorvo devagar, diante
do altar furtivo das tuas mãos,
quando seguram o rosto sossegado
do contentamento em nós.


laerce

quinta-feira, julho 21, 2005

ilha


Paul Gauguin, Daydreaming

Tira a máscara do quotidiano e mergulha no regaço de uma ilha a que um pintor deu as cores do paraíso.
Se o teu destino não for a ilha, que seja um rosto que te lembre a ilha.
Eu sei que há bombas a explodir em outras latitudes, eu sei que descobriram ainda mais buracos nesta nossa estrada europeia…mas ainda nos resta o sonho que não acabou e que pode fazer nascer a obra.

quarta-feira, julho 20, 2005

forma de...


Lunch a top a Skyscraper-1932


...estar descontraído na vida.

então...


Donald Zolan, Seaside Adventures

...fazemos ou não fazemos o castelo?

terça-feira, julho 19, 2005

metamorfose


Sadhna Press, Pacific Sunset Reflections,Drake’s Beach


Tenho medo de olhar as águas
e ver-me transformada em pedra.
Tenho medo de não distinguir as cores
das emoções nossas de cada dia.
Tenho medo desses dias.

Tenho medo de procurar
as fotografias e elas não me reflectirem,
nem a ti, nem a nós, nem a nada.
Tenho medo de ouvir os meus passos
e escutar o eco de ninguém.



laerce

segunda-feira, julho 18, 2005

distância


John Miller, Island Sailing


O desejo alterou as coordenadas
do meu corpo
e deu-lhe a dimensão
de um oceano.
Em ilhas distantes
espalhou sorrisos de areia
e sussurrou
sobre as ondas
o nome que deixei esquecido
em cima da mesa,
antes de partir.




laerce

verde ainda


Flower


Posso acreditar no que dizem os meus olhos
no entanto, por vezes mentem para me tranquilizarem.
São meus amigos, os meus olhos, e choram
quando dão conta que eu descobri a verdade.

domingo, julho 17, 2005

poesia


Quin, Flower



O amor pela poesia, como todo o amor, é a história de um equívoco. Para a maioria dos homens o convívio com a poesia é a forma simples de ter ao alcance das mãos um mundo cómodo, mais tranquilo que o mundo de todos os dias, ou então a maneira de se alienarem num universo brilhante e raro, equivalente do sonho e do desejo.

Eduardo Lourenço, Tempo e Poesia

sexta-feira, julho 15, 2005

verde


galerias.escritacomluz.com/sandraf

Se quiseres, podes passear por esta brisa
e sentir a mão que te tranquiliza.

Se quiseres, podes calar os segredos
e deixar falar apenas os teus dedos.

quinta-feira, julho 14, 2005

chegar...


Bill James,Boats at Dinner-Key

...ou partir?

quarta-feira, julho 13, 2005

a elegância...


Alie Kruse Kolk,Piazza-III

...é inseparável da proporção e da forma, a beleza pode dispensá-la, se estiver em causa uma tensão construtiva, posteriormente, recuperada ou multiplicada pela sonoridade da voz. O ritmo pode ser superior à forma. Assim o daimon sonoro da retórica é guerreiro, o da poesia tanto pode ser selvagem e avassalador como gentil ou sereno, o da tragédia é tenso e moral..
Causa Amante ( posfácio)

terça-feira, julho 12, 2005

escadas


Ilana Richardson,Blue,Yellow,Orange Stairs


Convido-te a lutares contra da monotonia, e a colorires cada dia de cores diferentes, de tons diferentes. Se não conseguires, convido-te a apurares a visão. Verás que tudo mudou, sem te dares conta. Dirás então que o teu contributo não é necessário e eu acenarei negativamente a cabeça e estender-te-ei a mão e tu saberás que vejo o mundo através de ti.

segunda-feira, julho 11, 2005

o elemento


Arcimboldo, Fire


É assim que deve ser o fogo,
enérgico mas controlado.
Primordial fonte de luz
e de paixão.

É assim que deve ser o fogo,
dócil e ardente.
Sem devorar a água
a terra e o ar.

domingo, julho 10, 2005

fotografia


Mccormick
Fog Bank


Passo em silêncio pelo espaço
que habitas dentro de mim e vejo,
com nitidez ainda, o que desejo ver.
Como um fotógrafo experiente,
procuro apenas o que interessa para dourar
o momento em que nos vimos e
nos abraçámos com o olhar.

O tempo já nos distanciou de nós.
Já provou que tudo passa e
nós passamos também, esquecidos
das fotografias que se desprendem
da memória e nos caem nas mãos.


laerce

sábado, julho 09, 2005

conclusão




Apoiado!

apocalipse


amanhecer, 8 /07 - a serra





entardecer 8/07 - a cidade

sexta-feira, julho 08, 2005

aniversário


Natura II
200360 x 73 cms
Técnica mista - colagem e acrílico sobre tela.

ISABEL MAGALHÃES
Col. Particular



São as mãos que agarram as cores
em sombras de desejos
e as transformam em memórias
ciciantes do paraíso.
Assim, como se embala um sonho de infância
que, mesmo impreciso, resiste.


Isabel, PARABÉNS!

quinta-feira, julho 07, 2005

casa...



Adam Clark Vroman American, Sichimovi, Arizona, 1902



Quando se é criança, gosta-se de ter uma casa dentro da casa.
A personagem que espreita parece que manteve esse gosto.
Será ainda criança?

quarta-feira, julho 06, 2005

convocatória


Pérgula da Foz


Convoco as brumas, minhas amigas
nas noites de ânsia à volta da fogueira
que esmorece com a alba e se dilui nos raios de sol.

Convoco as ondas, minhas irmãs
nas praias de areias finas e marés vivas
que ouvem e interpretam o meu batimento cardíaco.

Convoco os frutos silvestres, meus cúmplices
nos aromas desconhecidos e desejados
que circulam pelo ar, dissolvidos em películas no quotidiano.

Convoco os astros, meus companheiros
nos sonhos de serem percorridos e explorados
por mãos hábeis, no limiar da razão.

laerce

terça-feira, julho 05, 2005

pressão


Pollock, mural


Um homem está de pé, em silhueta escura, em frente a uma superfície cinzenta, enevoada, vazia, encostado a uma parede da sala. Há mais de seis meses tem lutado com a tarefa de pintar um mural para o hall de entrada de uma coleccionadora rica. O tempo de procratinação terminou. A coleccionadora está a planear uma festa e insiste para que a tela esteja terminada até essa data. O artista mergulha então no seu trabalho e, no curso de apenas uma noite e uma manhã, sob uma pressão incrível, completa a pintura que iria marcar o ponto de viragem na arte do século vinte: Mural.

Excerto retirado da Colecção Taschen, Pollock

segunda-feira, julho 04, 2005

depois



E depois vieste tu,
com memórias de regatos cristalinos
para acordar um rio impreciso
e dar-lhe a correnteza da foz.

domingo, julho 03, 2005

valeu!


T-Shirt

...a festa, e agora,valerá?

constatação



Tal como tantos versos eu julgava esplêndidos
que hoje me soam vácuos e vazios,
músicas há me soando a ruído apenas
que outrora me enlevavam de sentidos fundos.
………

Jorge de Sena, Antologia Poética

sábado, julho 02, 2005

dúvida


Did de cyclist fall in love?

................

sexta-feira, julho 01, 2005

consenso


Aleijadinho


Era uma jarra para duas comadres.
Cada uma com um molho de flores
para enfeitar uma morada eterna,
na cidade branca de uma cidade de subúrbio.

Uma comadre já tinha o molho desfeito
e a jarra quase a abarrotar de cores
em gladíolos, dálias e alguns fetos,
num colorido em algazarra vivaz.

Outra comadre chegou e disse
um bom dia desconsertante, com
um molho de copos-de-leite imaculados
que tornaram pálidas as primeiras ocupantes.

Que fiquem, que cabem todas.
Que saia tudo. Que saiam só as dálias.
Que não. Que sim, que sim. Que não
Que fiquem os fetos. Ficaram. Com as brancas.


laerce

Arquivo do blogue

mail