Há tempos fui visitada na
insignificância do meu segundo andar. Seria, pensei, o homem da tvcabo, mas um
anjo abriu as asas quando lhe perguntei pelo crachá e sorriu. Os meus vizinhos
não deram por nada. O prédio é uma colmeia encardida pelas águas dos canos
rompidos e ninguém se preocupa com isso, quanto mais com alguém que pede para
abrir a porta de entrada para ir ao segundo. Que me queres, perguntei.
Anunciar-te a boa nova, respondeu. Que nova, insisti. Não vês que sou um anjo.
Caído, interrompi. Como queiras, completou. Já tenho um anjo da
guarda, com licença.
Encostei a cabeça à porta, nenhum passo de
afastamento, nenhum sinal de respiração que não a minha. Pelo óculo vi que a
luz do corredor se apagou, abri a porta repentinamente e apenas a monotonia dos outros apartamentos me estalou na cara.
Imagem: Giotto