segunda-feira, março 24, 2014


 
 
Há tempos fui visitada na insignificância do meu segundo andar. Seria, pensei, o homem da tvcabo, mas um anjo abriu as asas quando lhe perguntei pelo crachá e sorriu. Os meus vizinhos não deram por nada. O prédio é uma colmeia encardida pelas águas dos canos rompidos e ninguém se preocupa com isso, quanto mais com alguém que pede para abrir a porta de entrada para ir ao segundo. Que me queres, perguntei. Anunciar-te a boa nova, respondeu. Que nova, insisti. Não vês que sou um anjo. Caído, interrompi. Como queiras, completou. Já tenho um anjo da guarda, com licença.

Encostei  a cabeça à porta, nenhum passo de afastamento, nenhum sinal de respiração que não a minha. Pelo óculo vi que a luz do corredor se apagou, abri a porta repentinamente e apenas a monotonia  dos outros apartamentos me estalou na cara.           


Imagem: Giotto

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