sábado, janeiro 15, 2005

belavista (conclusão)


Route 6 Eastham, Edward Hopper


Mas Ermelinda não gostava de sair, sentia-se uma trouxa, um fardo em que se pegava, se punha aqui e ali.
Sempre que tinha de ir ao médico, sempre que um filho cismava que devia levá-la a passear, sempre que se comemorasse um natal ou uma páscoa na casa da filha que era maior e mais confortável, Ermelinda sabia o que era. Sabia, dia após dia, que o amor de todos se teria tornado intacto e indestrutível se não tivessem sido as pernas mas o corpo todo a ficar ali no asfalto, no meio do cheiro a pneus, na moderna estrada que veio cortar ao meio a freguesia da Belavista.

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