...mas não foi. (casamentoll)

Sunlit Road, Leigh Preston

A viagem foi rápida, a auto-estrada tinha pouco movimento e os pais estavam bem dispostos. O pai, pouco dado a conversas, ia contando uma coisa ou outra do emprego que fazia a mãe questionar, dando corda a uma conversa de banalidades, necessária para matar o tempo. Vez por outra um comentário a um condutor mais apressado, isto a polícia não vê. E os carros de alta cilindrada a alta velocidade como espadas iluminadas traçavam riscos que rapidamente se transformavam em pontos vermelhos e desapareciam.
Pararam numa estação de serviço para um café e decidiram que à entrada de Lisboa, e para não se perderem, seguiriam para a estação do Oriente, marginal, até Oeiras. Era mais fácil, com tantos outros itinerários, 2ª circular, A5 e outras que tais, o mais fácil seria o caminho antigo.
À chegada a Lisboa, uma hesitação num desvio colocou a família em plena ponte Vasco da Gama. Uma carreirinha de palavrões soava baixinho na cabeça do pai, mais alto na cabeça da mãe. Filipa sentia-se cansada, já era grande, tinha onze e ainda a obrigavam a fazer a viagem naquele ridículo assento que até já estava esfarrapado. Já não sabia onde havia de pôr os pés, mas não se atrevia a queixar-se. Há muito que as imagens do casamento do dia seguinte a tinham abandonado. E nem a imagem que projectava de si própria, com o lindo vestido vermelho escuro de laços, a distraía do cansaço espalhado pelo corpo.
A ideia da mãe era voltar para trás, agora não se enganariam. A do pai era desviar à direita na primeira saída depois da ponte. Afinal, havia ou não outra ponte do lado poente? O pai conduzia, venceu a ideia do pai. O carro circulava indeciso por outra IC. As placas informavam em letras garrafais: SUL,e mais discretamente:Lisboa. SUL, Lisboa. SUL, Lisboa. Lisboa. Lisboa. O Cristo-Rei. A ponte. Outro corte à direita, Belém. Mas sem estrelas a indicar o caminho. Estava chuvoso e uma névoa limitava as auréolas dos postes de iluminação. Finalmente!