
George Stubbs Whistlejacket
Quando Lourenço chegou à porta do edifício central do banco vinha ofegante. O suor que despontava do rosto ainda imberbe tornava-o um ser líquido e luminoso animado por um olhar de súplica implícita que trespassava a porta envidraçada e se detinha no vigilante sentado na secretária a folhear uma revista.
Tocou desesperadamente com as pontas dos dedos como se estivesse dentro de uma redoma de vidro vendo os funcionários do balcão entretidos a fechar as contas. O vigilante não desviava os olhos concentrados na revista, e isso parecia ser propositado. Lourenço sentia que estava a ser observado mas por quem não lhe queria valer. Reparou que havia um cliente a ser atendido lá ao fundo e decidiu aguardar que ele saísse, podia ser que ainda tivesse uma oportunidade. Via-se reflectido no vidro, com a elegante praça atrás de si. Distinguia bem um dos cavalos de bronze que a ladeavam, colocado em cima de um pedestal de mármore avermelhado, numa pose rebelde como se tivesse perdido o dono e andasse esbaforido e desalmado. O homem, também de bronze, que o tentava dominar parecia travar uma luta inglória mas eterna para segurar esta procura obstinada.
Via as pessoas apressadas e distraídas a desfilar pelo vidro qual filme sem interesse. E via o seu rosto, o movimento nervoso e imperceptível da boca parecendo ainda exercitar como deveria dizer o que ia dizer.
O cliente lá ao fundo, do outro lado continuava a conversar e de repente Lourenço sentiu um olhar espelhado e penetrante que se fixava nele, voltou as costas ao vidro e viu um velho de aspecto limpo que sorria e lhe estendia a mão. Lourenço olhou-o atentamente parecendo querer recuperar uma memória escondida lá no fundo não sabia bem de quê. O velho não se movia e segurava o olhar e o sorriso como se duma estátua se tratasse.
Lembrou-se então do que estava ali a fazer e voltou a cabeça. O ponto onde o cliente tinha estado estava vazio, ao balcão já não havia ninguém. O vigilante levantou os olhos, observou-o enfastiado e apontou o relógio, já há muito havia passado a hora de expediente, e voltou à sua revista.
Lourenço baixou os olhos, fez um movimento com o punho cerrado como se quisesse atingir alguém e sentou-se no rebordo de mármore bege que rodeava um canteiro de amores-perfeitos.
Por entre os passantes distinguiu, na confluência de duas ruas que se diluíam na praça, o homem que o fixara momentos antes. Continuava com a mão estendida e falava face à indiferença de quem se cruzava com ele. Não era um mendigo de certeza, pensou Lourenço, não obedecia a um estereótipo, era altivo e sorria como se pedintes fossem todos os outros.
Tocou desesperadamente com as pontas dos dedos como se estivesse dentro de uma redoma de vidro vendo os funcionários do balcão entretidos a fechar as contas. O vigilante não desviava os olhos concentrados na revista, e isso parecia ser propositado. Lourenço sentia que estava a ser observado mas por quem não lhe queria valer. Reparou que havia um cliente a ser atendido lá ao fundo e decidiu aguardar que ele saísse, podia ser que ainda tivesse uma oportunidade. Via-se reflectido no vidro, com a elegante praça atrás de si. Distinguia bem um dos cavalos de bronze que a ladeavam, colocado em cima de um pedestal de mármore avermelhado, numa pose rebelde como se tivesse perdido o dono e andasse esbaforido e desalmado. O homem, também de bronze, que o tentava dominar parecia travar uma luta inglória mas eterna para segurar esta procura obstinada.
Via as pessoas apressadas e distraídas a desfilar pelo vidro qual filme sem interesse. E via o seu rosto, o movimento nervoso e imperceptível da boca parecendo ainda exercitar como deveria dizer o que ia dizer.
O cliente lá ao fundo, do outro lado continuava a conversar e de repente Lourenço sentiu um olhar espelhado e penetrante que se fixava nele, voltou as costas ao vidro e viu um velho de aspecto limpo que sorria e lhe estendia a mão. Lourenço olhou-o atentamente parecendo querer recuperar uma memória escondida lá no fundo não sabia bem de quê. O velho não se movia e segurava o olhar e o sorriso como se duma estátua se tratasse.
Lembrou-se então do que estava ali a fazer e voltou a cabeça. O ponto onde o cliente tinha estado estava vazio, ao balcão já não havia ninguém. O vigilante levantou os olhos, observou-o enfastiado e apontou o relógio, já há muito havia passado a hora de expediente, e voltou à sua revista.
Lourenço baixou os olhos, fez um movimento com o punho cerrado como se quisesse atingir alguém e sentou-se no rebordo de mármore bege que rodeava um canteiro de amores-perfeitos.
Por entre os passantes distinguiu, na confluência de duas ruas que se diluíam na praça, o homem que o fixara momentos antes. Continuava com a mão estendida e falava face à indiferença de quem se cruzava com ele. Não era um mendigo de certeza, pensou Lourenço, não obedecia a um estereótipo, era altivo e sorria como se pedintes fossem todos os outros.
(continua)
laerce
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