segunda-feira, abril 18, 2005

tentação


Tree Sunset


Os poetas também inventam personagens
a quem animam com fios invisíveis.
Sentam-nos em sofás dentro de casas vazias
e preenchem as paredes de quadros
e os móveis com objectos mudos e estatuetas sem olhos.


Os poetas também têm medo de criar o que já está criado
mas não resistem à tentação. É-lhes natural e divino
como o nascimento de uma criança
como a passagem das estações
como o dia e a noite.


Os poetas sucedem aos poetas
e estremecem nas ruas desertas ao amanhecer e ao entardecer
como se estivessem frente ao mar à procura do último reflexo de luz
à procura do último rosto do último aceno
para lhes darem o primeiro verso de cada poema por nascer.

Fazem assim os poetas acorrentados a cadeias de palavras
como se quisessem cavalgar potros selvagens em florestas virgens
que se desfazem em pedacinhos no cesto dos papéis.


laerce

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