quinta-feira, setembro 22, 2005


competência


Pablo Picasso, La lecture
...
Não devia, eu sei, mas hoje apetece-me escrever como se escrevesse um diário. Eu não escrevo diários, nunca escrevi. Não sou tão metódica assim e até a minha letra, quando só para mim, é uma gatafunhada que nem eu própria a compreendo.
Mas hoje preciso de falar do meu dia, por isso acabei agora mesmo de criar um diário. Claro que há muitas páginas para trás que não escrevi, digamos não escrevi de papel passado, mas escrevi. Por acumular a leitura introspectiva de todas essas páginas é que venho agora marcar esta com frases que façam sentido para além de mim. Pode ser que façam.
Releio o que escrevi até este momento e ainda não disse o que de facto foi a gota de água que fez transbordar palavras do meu cérebro. Bem, a palavra é um pronome pessoal, forma de sujeito, terceira pessoa do plural: eles.
Eles estão sentados diante de mim, são 26 duas vezes. São de vários idades. Muitos têm um olhar ávido de curiosidade, é tudo novo! São tão pequenos! Outros parecem saber tudo, pela maneira como se sentam, pela maneira como falam. A curiosidade está disfarçada em desinteresse. Todos, todos sem excepção, procuram afecto, procuram um olhar atento.
Eu tremo debaixo da minha couraça de papéis, programas, planificações, objectivos. Objectivos? Que nada menina, estás desactualizada, agora é competências. Avalia-se as competências.
Eles não sabem que por detrás de todas as tarefas que lhes vou dar, de todos os exercícios, de todas as reprimendas, de tudo o que não escreverei, também está um olhar ávido de curiosidade e afecto, o meu.

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