sexta-feira, novembro 18, 2005

greve




Não sou contra a ocupação dos chamados furos no dia-a-dia escolar dos alunos, no entanto perguntava a todos os pais do mundo que já foram crianças e jovens e frequentaram as escolas do antes e do depois se não apreciavam o sabor de um desses furos, mas adiante.

Para mim há nitidamente um erro nessa questão que se prende com ‘aulas/actividades não lectivas’. Na ânsia de transformar rapidamente e por decreto o panorama cultural do país rentabilizando muito positivamente os recursos humanos existentes, entendeu-se que os professores com mais anos de serviço e com redução da carga lectiva seriam os indicados para tapar os tais furos que tanto atrapalham a meta do sucesso educativo. Daí a passar a imagem do professor que não quer trabalhar vai um pequenino passo que foi dado, convenhamos, com um sucesso extraordinário e hoje quase ninguém se atreve a achar que os professores trabalham muito.
E no entanto, os professores e os pais sabem o quanto custa educar e formar. Os professores e os pais sabem que muitas vezes, no fim de uma meta se encontra não um troféu, mas um ovo podre a desfazer-se na cabeça. Os professores e os pais sabem que ensinar e educar dá trabalho, dá muito trabalho. Os professores e os pais sabem e sabem muito bem que educar e formar não é algo que está restrito a um horário, a uma sala de aula, a um currículo. Os professores e os pais sabem que precisam de tempo, de perseverança e de energia que muitas vezes é retirada sabe-se lá de onde.
Num momento em que a escola dos filhos não é seguramente a escola que foi dos pais, querer passar a ideia de que o professor se limita a trabalhar aquelas horas que está na sala de aula com os alunos é de uma perversão aterradora e atrevo-me a dizer muito nefasta para o verdadeiro sucesso e a verdadeira mudança de mentalidades e de posturas neste país sempre a sangrar.


Vejo da minha janela o nascer do sol todos os dias atrás das serras, é uma imagem lindíssima e inspiradora. Ali em baixo está uma terra complicada no panorama social, económico e cultural de país. É para os jovens dessa terra que eu trabalho. Hoje estou em GREVE. Recuso-me a pagar os erros de trinta anos de democracia.


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