quarta-feira, novembro 23, 2005

informal


sessão de leitura de Cesário Verde no auditório da escola


apropriar-se assim de um poeta
com versos espalhados nas margens dos cadernos
versos que saltam dos manuais
e se escondem a um canto de um beijo roubado
no intervalo das aulas
os versos do poeta em cadência
fáceis de decorar como uma música
nas nossas ruas ao entardecer
ou
naquele pic-nic de burguesas
tudo isso numa escola distante de lisboa
mas com muita luz a derramar-se
pela encosta da serra
e lá ao fundo um ex-líbris da arquitectura industrial
a lembrar o ambiente febril e frenético
de uma cidade negra e subterrânea
que havia ali por baixo do cavalete
há muito tempo
a lembrar a soturnidade e a melancolia
do abandono
num desejo absurdo de sofrer



cavalete de s. vicente, spcova




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