quinta-feira, dezembro 29, 2005

calar




Steve Raymer


Preciso de um verbo forte com travo amargo suficiente para que possa sentir um arrepio nas ideias baralhadas que circulam em contramão não respeitando a minha voz interjectiva. Procuro-o no dicionário (confesso que o meu leque vocabular é reduzido) mas só me atrapalho mais. As ideias agora ficaram mais eufóricas diante de tanta palavra nova e querem chegar primeiro. Acotovelam-se, gritam, uma mais alto que a outra, dizem que chegaram primeiro, mostram o ticket de chamada, debruçam-se nas minhas pálpebras, escorregam pela cana do nariz, caem em reboliço sobre o calhamaço. Viro rapidamente a folha, pronto, algumas delas já morreram, esfrego os olhos, outras tantas lá foram, tiro os óculos e muitas outras se desfizeram. Fico momentaneamente aliviada e recomeço. Qualquer verbo no infinitivo é poderoso. Está intacto e eu posso ramificá-lo para dar consistência às ideias. Vou folheando, passando letras sem me deter em nada em particular, antes que elas me distraiam de novo, antes que eu me perca na confusão das reclamações, antes que. É isso! Calar.

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