domingo, dezembro 11, 2005

um mundo assim



Sassoferrato

A vida é assim num mundo assim: enterra-se o dedo na campainha e deixa-se lá esquecido até que se perceba alguém do outro lado e a porta não fique tão fechada, enterra-se o corpo inteiro por aquele dedo dentro como se enterrarão as palavras na carne de quem vai abrir a porta e ficar especado vendo a roupa molhada que encharca o corpo numa noite de rachar os ossos e a pele a tremer como farrapos ao vento e uns olhos estereotipados a pedir. O mundo é assim: o rendimento mínimo não chega, o homem pica-se, o menino responde a tudo mostrando três dedos três anos, nome? três dedos, gostas da mãe? três dedos, gostas do pai? três dedos. E as depressões? eu estou limpinha as mangas puxadas para cima nuns bracinhos tísicos de veias apagadas só com força no dedo que já largou a campainha e aguarda.

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