sexta-feira, janeiro 27, 2006

monólogo




Aceito este muro frágil que fui construindo com palavras porque são a minha vida e não sei o que faria sem elas, não sei o que faria sem as palavras frágeis para falar do medo e do amor apesar do medo, não sei se eu dispuser pedras umas sobre as outras, não sei se chego mais alto, vejo mais alto, se vou para além das nuvens e agarro a luz perfeita da razão que arrepia a pele de tão perfeita, como o preenchimento completo de um vazio dentro do mundo onde caí sem saber e de onde vou sair sem desejar, de onde vou saindo sem desejar, porque cada dia é um passo definitivo e irreversível. Um passo definitivo e irreversível não é só nosso molde nas roupas que ficam no armário ou a impressão digital nos objectos sobre a cómoda reflectidos no espelho solitário, até que outro rosto surja para limpar o pó e arejar os armários, um passo assim é uma medida de tempo que nos cai do corpo e se enfia pela terra dentro atraída pelo núcleo em combustão que até a memória engole.
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