terça-feira, maio 16, 2006

espera


Eva Rubinstein


Como estarás agora. Procuro distrair-me dos minutos cadentes que demoram no relógio enquanto a ansiedade me rói a alma. Sustenho a pergunta que ecoa nas veias sem ter sido pronunciada. Dói-me esta tua dor. Não parei o relógio quando te deixei na maca. Acredito que é só uma rasura esta hora, este dia. Apenas um dia sem data marcada na memória.
Dou por mim a conjugar o verbo esperar. Sei que estou no imperativo, silencioso é certo, mas um imperativo não precisa de um tom especial para se fazer notar. Um imperativo é também isto, aqui, sabendo como entraste, que os exames são demorados, que há macas a respirar pelos cantos, a gemer talvez, a aceitar.
Vejo os teus olhos ainda, a tua mão frágil que seguro numa palavra trémula de confiança e depois, já no corredor, o anonimato desfeito numa ficha com os teus dados a que os médicos juntarão as observações feitas, os resultados dos exames. Não me atrevo a inventar o amanhã, estou suspensa numa pergunta que me arrefece mais que a própria noite.
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