domingo, maio 28, 2006

rock in...


Ozzy Osbourne


Em 85 o Rio fervilhava de emoção pela presença simultânea na cidade de tantos nomes sonantes da música. Era o primeiro Rock in Rio, no Rio de Janeiro, Brasil. Todos os dias do festival, das seis da tarde até às tantas da madrugada, num ambiente caoticamente organizado num extenso descampado, lá para os lados da Barra da Tijuca, milhares de pessoas ouviam os seus grupos ou cantores de eleição enquanto fumavam, bebiam ou beijavam.

Lembro-me dos agitados dias de então. A entrada traseira do Copacabana Palace, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, estava sempre à pinha de miúdos e graúdos que queriam ver de perto as vedetas, tocar-lhes, quem sabe falar-lhes. Mas não era só nesse mítico hotel que se encontravam hospedados os mais famosos. Lá ao fundo, no Posto Seis, o Sheraton Palace, o Othon Palace a meio da Atlântica e o Meridien no Leme deviam também ter uma moldura semelhante à porta. Eu só via o Copacabana Palace porque trabalhava quase ao lado do hotel, mas não era difícil imaginar o que se passava nos outros, a avaliar pelas correrias, pelos boatos que se espalhavam de um artista que andava pelas ruas protegido pelos seguranças, ou de um outro que foi visto a entrar numa limusina.

Os bilhetes eram bastante caros e mesmo que não fossem, não poderia nem quereria estar presente em todos os espectáculos, por isso escolhi dois dias, sendo um deles o dia da abertura, e preparei-me para assistir com um grupo de amigos a um grande momento musical. E assim foi de facto. Os Queen, vaidosos, só apareceram ia muito alta a madrugada, de modo que quando tudo terminou o sol já se insinuava no mar.

O segundo dia que escolhi tinha no cartaz Whitesnake, Ozzy e ACDC. Foi de rebentar os tímpanos. Dos três, queria mesmo ver o Ozzy, pela mística e pela música. Quando os Whitesnake terminaram a apresentação, gerou-se um movimento quase imperceptível em direcção ao palco. Eu deixei-me ir, seria interessante ver o mafarrico de perto. Chovia muito, poderiam até ser as Águas de Março na voz da Elis há pouco anos desaparecida, mas ali jogava-se tudo no rock, o Rock in Rio. A chuva deu origem a um pavoroso lamaçal onde os pés se enterravam quase até aos tornozelos. Todos sentiam, mas ninguém via, os olhos postos no palco escurecido.
Aos primeiros acordes de Carmina Burana, Ozzy surgiu com uma capa preta carregando uma enorme cruz que não lhe pesava nada e que seria remetida aos bastidores tão logo terminasse a poderosa apresentação. Aquele mise en scène agradava-me como divertimento, nunca como opção de ser ou estar. Foi excelente. Mais uma noite perdida. Chegaria tarde ao emprego, mas precisava urgentemente de um banho.

Por estes dias está a decorrer o Rock in Rio…em Lisboa. Sei que Rock in Rio é uma marca registada, mas Lisboa não é o Rio de Janeiro e Rio assim sozinho é uma palavrinha tão carinhosa, tão significativa que duvido que alguma vez possa ser propriedade de alguém.

E o Ozzy, minha nossa! Quem o vê no VH1 abrindo as portas da casa qual quinta das celebridades…patético.
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