terça-feira, agosto 08, 2006

do livro de epitáfios



Schroeder, o pescador


Eu sentava-me na margem do rio em Bernadotte
e atirava para a água pedaços de pão,
para ver os vairões a lutar entre si
até que o mais forte levasse o prémio.
Ou ia até a minha pequena pastagem,
ao chiqueiro onde os pacíficos porcos dormiam
ou tocavam gentilmente os seus focinhos
e vazava à sua frente um balde de milho
para vê-los empurrarem-se e morderem-se, aos grunhidos,
pisando-se uns aos outros para alcançar a comida.
Vi também como a quinta de Christian Dallman
com mais de mil e quinhentos hectares
engoliu o terreno de Félix Schmidt
como uma perca engoliria um vairão.
E o que digo é o seguinte: se no homem existe alguma coisa
- espírito, consciência, ou sopro divino –
que o faça diferente dos peixes e dos porcos,
bem gostava que me dessem a ver.


Edgar Lee Masters, Spoon River, Uma Antologia
Tradução de José Miguel Silva
Relógio d’Água



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