sábado, março 10, 2007

minésio...fanfarrão minésio
ao serviço de sua majestade, a rainha louca.


Fanfarrão estava diante da alfândega com o mapa na mão. Não descobria, naquele tosco esboço da cidade, a rua da casa dos cobertos, a casa de gonzaga, o mariconso que o ridicularizou em vila rica/ouro preto sem ter coragem de dar a cara, e que foi desterrado para a ilha de moçambique para continuar a ser juiz e a despachar negros aos magotes mar adiante em direcção ao ocidente, que o oriente há muito se tinha fartado dos hábitos desta estranha gente, enquanto nas horas de ócio à beira-mar lembrava camões e sonhava com marília em juliana, a legítima, como antes a imaginara na harpia olaia de coimbra , ou na joaquina, amásia deste também que está perdido na cidade com um mapa na mão, ou na doroteia que a inconfidência lhe subtraiu e as liras coloriram de ternos cabelos dourados. Trazia consigo a décima quarta carta escrita por ele minésio, fanfarrão minésio, ao serviço da rainha louca embarcada aos gritos para o brasil antes que os generais franceses lhe ensinassem a cartilha dos direitos do citoyen napoléon. A décima quarta carta contém um extenso texto em que fanfarrão reclama da grande injustiça com que está a ser julgado pela história insinuada naquelas cartas pseudo-anónimas chilenas de vila rica, e do direito, claro, o direito ao contraditório que não pode ser negado a nenhum cidadão. Caro leitor, não estranhes se te disser que tenho essa carta em minha posse. Podes bem imaginar que, fazendo aquele trajecto todos os dias, me aconteceu ter ajudado o fanfarrão a descobrir a casa dos cobertos, por entre roupa pendurada na sacada à moda da cidade histórica património e umas antenas parabólicas. Dada a sua extensão, só te revelo o que considero mais importante para te entreter sem entediar. Assim, informo-te que por entre as lamentações já referidas e ainda pelo desgosto de saber que as cartas chilenas estão à mão de semear na internet, para além dos nomes que chama ao ouvidor os quais nem me atrevo a reproduzir, o fanfarrão argumenta que qualquer facto histórico não pode ter só uma versão, pelo que se dispõe a ir à televisão para ser ouvido num julgamento mediático – um faz de conta de justiça popular sem povo – porque não acredita na justiça deste reino ou este reino já não acredita nele (está um pouco confusa esta parte da carta, por isso te deixo aqui as duas possibilidades). E, para concluir, apenas te posso dizer que a décima quarta carta não está escrita em decassílabos brancos, nem coisa que se pareça, porque, como disse o escritor joão aguiar lá na minha escola a propósito dos hábitos de leitura, ou somos pessoas ou somos calhaus com dois olhos. E não te esqueças, o fanfarrão tinha muitos livros, mas nunca os abria.


cartas chilenas , texto integral


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