Sabia bem que não o iria encontrar, razão pela qual comecei a fotografá-los tão logo cheguei. O vento frio impedia-me de desfrutar a imensidão da planície que envolve aquele monte em consuegra semeado de moinhos que, na realidade, nada têm a ver com ele. Quem vem de uma cidade monumental como toledo tem dificuldade em ver ali um espaço para uma obra literária que cavalga os séculos com a juventude dos sonhos. Embora d. quixote seja apenas uma personagem, penso que existe mesmo, pelo que me convenci que decerto no registo fotográfico seria possível vê-lo ao lado de sancho num diálogo silencioso sobre a realidade e a fantasia. Também aí não apareceu. Resolvi então criar a ilusão servindo-me de um programa e sobrepondo algumas das várias fotografias. O resultado foi bom. Se não fui capaz de revelar o fidalgo e o escudeiro, pelo menos a imagem conseguida transformou aquele monte num espaço repousante, com vista para a imaginação. De consuegra abalei para el toboso à procura de dulcineia, ciente de que ela é a ilusão da ilusão. Naquela pequena cidade quase deserta, debaixo de uma chuva miudinha, encontrei a casa de dulcineia. Nenhuma advertência previne o visitante, pelo que se existe a casa, a dona deve ter existido também. Não reclamei. Percorri os vários cómodos mas preveniram-me: fotografias só sem flash. Por isso, tive necessidade de recorrer de novo ao programa para clarear a foto acima que retrata o seu quarto. Não me perguntem se dulcineia também escrevia.
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