quinta-feira, agosto 02, 2007

veredicto

Se a memória não me trair no próximo dia quatro de agosto, sem me preocupar com verdades ou mentiras, construo um discurso de retalhos em que misturo os alinhamentos previsíveis dos telejornais com as capelas imperfeitas da batalha e a conversa sobre o desarranjo do mundo que tive hoje com a testemunha de jeová pelo intercomunicador do prédio. Dou-lhe um rosto como introdução, uma armadura e, embora não lhe reconheça carisma, direi que se trata de um rei. Como ainda não esqueci a história daquele soldado que antes de partir para a guiné, no tempo da guiné do minho a timor, foi à campa do avô e arrancou o esmalte com a fotografia para levar assim aquele recordação no barco, na mata, ao som da morte intermitente, compreendo perfeitamente o rei diante dos antepassados reis jacentes nas capelas imperfeitas, antes de partir, mesmo que não compreenda o que veio a seguir, como por exemplo a armadura que levou para a batalha estar na armeria real no palácio da zarzuela em madrid, ou então essa tão grande dificuldade em reconhecer um corpo cujos pés têm a particularidade de possuírem seis, seis, dedos cada um. Para os que se reclamaram ser o próprio podia ter-se assim um sapatinho para calçar, uma bota pois, sejamos viris, onde coubessem seis dedos sem apertar muito e não andávamos agora a imaginá-lo em penamacor ou na ericeira, ou então na distante calábria ou preso no escorial sombrio filipe que só com um olhar para o camareiro decidiu um país das maravilhas. Não teríamos, é certo, muita matéria para empatarmos as nossas mágoas, ou para ignorar o nosso passado, mas sempre poderíamos inventar que o desconcerto do mundo é culpa dos poetas ou das televisões em directos de sangue ao jantar. Para cimentar a memória e alimentar um túmulo vazio, à voz trémula da testemunha de jeová quando me perguntou o nome, respondi sebastião.


imagem daqui
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