segunda-feira, novembro 19, 2007

retrato

Hoje foi o primeiro dia de frio a sério. As árvores decididamente resolveram despedir as folhas, todas as folhas caducas, as mais e as menos amarelas, sem dó nem piedade. Já é tempo e venha o vento varrer as que, pasmadas e afásicas, continuam aos montes, encostadas aos troncos até que os pneus dos carros as esmaguem nas manobras de estacionamento ou os gases do tubo de escape as enviem para o vazio.
A parte oriental da cidade é uma zona envelhecida. As casas da rua do heroísmo, encostadas umas às outras, debitam lamúrias de velhas sem terem quem lhes aqueça os pés, enquanto os poucos transeuntes encolhidos ignoram a berrante fachada cor-de-rosa do shoping a cuja entrada foi esfaqueado um rapaz meses antes. A avenida rodrigues de freitas, de palacetes e prédios dos anos sessenta, não consegue eliminar esse ar decadente que se apoderou deste lado da cidade e que as árvores acentuam com os ramos quase nus. O jardim de são lázaro, a concentração saturada de árvores de folha perene por metro quadrado, e que forma uma espessa mancha escura, só reforça esta sensação de abandono. Os velhos não ocupam os bancos, ficaram em casa envolvidos em cobertores, encostados à janela ou diante da televisão a ver a praça da alegria, sem alegria.


foto: pormenor de azulejo danificado.


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