sexta-feira, fevereiro 08, 2008


três tristes tigres





O poeta diogo bernardes foi com ele para cantar outros grandes feitos. O primo prior do crato, porque estava zangado, embarcou mais tarde. Vestiu-se de preto o antónio: não lhe chegava o tio a atazanar-lhe a cabeça por preferir ser apenas cavaleiro de malta, vinha agora o primo-rei dar razão ao valido que o traíra, trocando-o por um tal cristóvão de távora. Será que não tem direito a gozar plenamente o estatuto natural que o pai luís lhe concedera? Iria até áfrica com certeza, era lá homem de perder uma briga, mas vestido de preto. Mandaria arrancar todas as flâmulas e bandeiras que adornavam os seus navios e zarparia mais tarde para que ficasse bem vincado o seu descontentamento. Claro que ele nem sequer deu pela falta do antónio. Convocara o país inteiro, mais os mercenários alemães, italianos e espanhóis e, diante do rio da aldeia de caeiro, afinou o som da guitarra enquanto o povo lavava nesse ou noutro rio, eram ainda árvores verdejantes as tábuas do caixão. O malluco avisara-o para não descer; descreveu-lhe áfrica arenosa, seca e quente; afirmou o seu direito à terra que mulei mohâhmede usurpara e que não compreendia por que razão um jovem rei se metia naqueles trabalhos todos só para repor um xeque no poder. A abde almélique interessava a paz com os cristãos para promover o comércio e as boas relações. Mas ele não queria nada disso. Um combate à moda antiga, olhos nos olhos, rei contra rei, um duelo erótico, uma partida de xadrez. Levava a espada de afonso conquistador. Levava? Não ficou no navio? Os soldados morriam de sede, mas ele comeu à farta antes de tudo começar. O guarda – roupa estava a rigor para a celebração da vitória e as trombetas e os atabales anunciaram a marcha das tropas.
Diz-se também a batalha dos três reis porque, nesse dia dos princípios de agosto, três reis morreram. Desta forma: o malluco teve uma síncope por pensar que os seus soldados fossem cobardes; o xerife usurpador morreu afogado num pequeno rio porque não sabia nadar; ele, constou-se que se viu um pano branco no meio da carnificina, mas quem o conhece sabe que nunca se renderia. O prior antónio continuou de preto, agora por razões mais objectivas, enquanto diogo bernardes escrevia sonetos à nossa senhora. Ambos foram feitos prisioneiros e o resgate custou os olhos da cara ao povo que continua a lavar no rio.


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