Estive no goooooogle à procura de um coração. Milhares responderam à pressão na tecla enter. Tantos tantos que pensei na chuva de sapos do filme magnólia que ontem a evva me deu a ver a propósito da tromba marinha descrita por camões no canto quinto de os lusíadas. Com medo de perder o precioso tempo neste oceano de amor, limitei a procura ao coração barroco uma vez que com ele queria ilustrar um texto do padre antónio vieira que fala justamente de amor, o sermão do mandato. Responderam os corações de ouro e prata cinzelados das ourivesarias de braga e viana do castelo, incluindo um em filigrana que obviamente não me dizia nada.
Continuei com o sagrado coração e uma avalancha de igrejas, pendões e pagelas mostraram-me como o mundo é grande neste pequeno écrã diante de mim. De nós, vá. Não conformada com esta pouco palpitante aproximação, insisti na página seguinte e surgiram-me muitos corações de cristo, maria ou santa teresa de ávila que me deixaram sim talvez seria assim uma coisa mais ou menos mas não bem isso. Além de que um coração a sangrar rodeado de espinhos e encimado com uma cruz teria uma leitura tão evidente que era melhor desistir da imagem e deixar o texto entregue a si mesmo que - bem lá no fundo do coração, este aqui dentro-, era o que deveria ser.
Teclei de novo coração mas mudei o adjectivo para apaixonado. Céus! Tantos tantos tantos! Corações de nuvens, de areia, de chamas, de néon, de plástico, de flores, de mãos, de papel, de fósforos, de gelo. Corações pintados por crianças, trabalhados por pintores e escultores conhecidos e desconhecidos. Corações azuis, vermelhos, amarelos, verdes, às riscas, às bolinhas, matizados, traçados, esbatidos, em alto e baixo relevo. Corações trincados, desfeitos, amordaçados, amolgados, em lágrimas, às gargalhadas.
Chega. Coração. Enter. E então surgiu ele, o verdadeiro e único. Separado dos vasos sanguíneos, exibindo galhardamente os ventríloquos, as aurículas, o miocárdio, tudo anatomicamente descrito como nos livros de ciências ou nos tratados de medicina. Era possível até sentir a contracção e o relaxamento do poderoso músculo, mas infelizmente em nada se adequava ao sermão do mandato. Por isso, desisti de procurar o coração perfeito, e porque ainda não me esqueci da chuva de sapos deixo aqui ficar esta imagem que é um coração e uma tromba d’água mais ou menos estilizada.É provável que chovam corações também ali.
Nota: No Leitura Partilhada estamos a ler Padre António Vieira.
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