sexta-feira, agosto 16, 2013

exílio





Qualquer exílio te
Qualquer exílio tem um antes e um depois e um dia D planificado. Desprezei o tom heróico a retórica oca e a tragédia porque não busquei nenhuma moralidade, nem quis ensinar ninguém senão dar-me a certeza de que sabia. Sabia sem palavras sem actos e sem omissões. Ainda que muitos promontórios me tivessem assustado, nunca fui capaz de os interpelar, e tremi mais do que três vezes. Se o silêncio de então tivesse destruído o meu corpo transformando-o em um farrapo inofensivo a bater nas rochas, nunca se conheceria o relato deste exílio. Invoquei o daimon da poesia, umas vezes sereno e frágil, outras selvagem e avassalador, adjectivos que retirei de Gabriella Lansoll, porque nunca se parte completamente sozinho. Sozinho é um vazio, um vácuo, um zero que, em si, significa nada. Escolhi uma triste e leda madrugada, com a alma vestida de liberdade decidida e a débil chama da verdade e parti, como muitos partiram antes de mim.


foto: aranguez

Sem comentários:

Arquivo do blogue

mail