Qualquer exílio te
Qualquer exílio tem um antes e um
depois e um dia D planificado. Desprezei o tom heróico a retórica oca e a tragédia
porque não busquei nenhuma moralidade, nem quis ensinar ninguém senão dar-me a
certeza de que sabia. Sabia sem palavras sem actos e sem omissões. Ainda que
muitos promontórios me tivessem assustado, nunca fui capaz de os interpelar, e
tremi mais do que três vezes. Se o silêncio de então tivesse destruído o meu
corpo transformando-o em um farrapo inofensivo a bater nas rochas, nunca se
conheceria o relato deste exílio. Invoquei o daimon da poesia, umas vezes
sereno e frágil, outras selvagem e avassalador, adjectivos que retirei de
Gabriella Lansoll, porque nunca se parte completamente sozinho. Sozinho é um
vazio, um vácuo, um zero que, em si, significa nada. Escolhi uma triste e leda
madrugada, com a alma vestida de liberdade decidida e a débil chama da verdade
e parti, como muitos partiram antes de mim.
foto: aranguez
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