
Persistence of Memory, Salvador Dalí
Porto, 10 de Novembro de 2004
Querida Joana
Hoje estivemos na aula de literatura a trabalhar um conto surrealista de Mário – Henrique Leiria chamado “O Bode Imarcescível”. A história do bode até é engraçada e a turma divertiu-se com a trajectória desta personagem, mas o que me ficou foi a palavra imarcescível. A professora não quis dizer logo o significado da palavra e andámos para ali a lançar hipóteses com base no sentido do texto. Por fim lá soubemos o que significava e, quase automaticamente, associei a palavra a ti.
Durante uns dias acompanhei o teu percurso através das cartas que escrevias à tua amiga Marta. Compreendi a relação que tinhas com os teus pais, o teu irmão, a tua avó. Vi os esforços que fizeste para te ligares à família de Marta como se tivesses aí a possibilidade de enganares a realidade. Segui os teus passos na escola, os teus amigos, tudo o que fizeste para resistir. Verifiquei, com mágoa, que também tu foste levada pelos Amigos da Onça, quando de facto pensaste que estavas perante alguém que te ia ajudar a reconstruir o teu mundo
Olha Joana, cada um é livre e dono da sua vida, embora isto de liberdade tenha muito que se lhe diga. Mas saber que tu, na força da idade, como se costuma dizer, nos deixaste, é muito triste. Saber que não vais ver mais as estações a chegar ou ouvir os sons suaves das águas a correr nos regatos, dá um nó na minha alma. Por isso, Joana, vou estar muito atenta, muito acordada para que nada me faça esquecer a coisa mais importante que temos que fazer na vida: viver.
Como esta carta começou com o surrealismo e se falou de um quadro de Salvador Dali com relógios a escorrer e porque os relógios significam muito para a compreensão da tua história, posso dizer-te agora que o carinho que tenho por ti é imarcescível.
Um beijo,
Clarinda
Querida Joana
Hoje estivemos na aula de literatura a trabalhar um conto surrealista de Mário – Henrique Leiria chamado “O Bode Imarcescível”. A história do bode até é engraçada e a turma divertiu-se com a trajectória desta personagem, mas o que me ficou foi a palavra imarcescível. A professora não quis dizer logo o significado da palavra e andámos para ali a lançar hipóteses com base no sentido do texto. Por fim lá soubemos o que significava e, quase automaticamente, associei a palavra a ti.
Durante uns dias acompanhei o teu percurso através das cartas que escrevias à tua amiga Marta. Compreendi a relação que tinhas com os teus pais, o teu irmão, a tua avó. Vi os esforços que fizeste para te ligares à família de Marta como se tivesses aí a possibilidade de enganares a realidade. Segui os teus passos na escola, os teus amigos, tudo o que fizeste para resistir. Verifiquei, com mágoa, que também tu foste levada pelos Amigos da Onça, quando de facto pensaste que estavas perante alguém que te ia ajudar a reconstruir o teu mundo
Olha Joana, cada um é livre e dono da sua vida, embora isto de liberdade tenha muito que se lhe diga. Mas saber que tu, na força da idade, como se costuma dizer, nos deixaste, é muito triste. Saber que não vais ver mais as estações a chegar ou ouvir os sons suaves das águas a correr nos regatos, dá um nó na minha alma. Por isso, Joana, vou estar muito atenta, muito acordada para que nada me faça esquecer a coisa mais importante que temos que fazer na vida: viver.
Como esta carta começou com o surrealismo e se falou de um quadro de Salvador Dali com relógios a escorrer e porque os relógios significam muito para a compreensão da tua história, posso dizer-te agora que o carinho que tenho por ti é imarcescível.
Um beijo,
Clarinda
Sem comentários:
Enviar um comentário