terça-feira, novembro 09, 2004

Um relógio parado


Hedgerow, Andrew Nicholi

“Lisboa, 2 de Junho

Querida Marta

Tenho dado tudo para aguentar, mas é tão difícil! O doutor Gonçalves ( o meu novo psicólogo) diz que vou conseguir, mas não sei se é apenas para me encorajar. Deve ser uma táctica dos psicólogos fazer de conta que toda a gente é capaz de tudo. Seja como for preciso de acreditar nele, já que em mim pouco acredito. Insiste que eu tenho de desabafar. Partilhar. O quê? Com quem?
Esta tarde estava a baloiçar-me na minha lua, olhei o pulso esquerdo e tive vontade de arrancar a pele para a tatuagem sair. Agora é tarde de mais. O meu relógio continua parado nas zero horas de um dia que ainda não chegou. Quem poderá dar-lhe corda?

Só o João Pedro é que telefona de vez em quando, sempre animador…Disse-me também que quer vir ver-me, mas prefiro que ele não me veja assim. Não saberia como explicar-lhe, e ele haveria de achar-me a pessoa mais estúpida, mais incoerente e mais absurda do planeta. Basta ouvi-lo ao telefone para perceber que não me perdoa. Não posso criticá-lo por isso. Eu também não me perdoo. Em contrapartida, já consegui perdoar-te, Marta. Finalmente!”
A lua de Joana, Maria Teresa Maia Gonzalez


Que caminhos são necessários percorrer para se compreender e perdoar alguém?
Amanhã vou escrever uma carta para a Joana…

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