
Timeless II, Bernsen/Tunick
O dia mostra-se frio e, em demorados segundos, o sol invade por completo a paisagem e os raios de sol, filtrados pelo vidro, espalham-se pelo quarto alegremente. Ermelinda sabe que será um dia como todos os outros, com os rituais de sair do quarto, passar à cozinha, estar na cozinha e voltar ao quarto. Mas sabe que esses passos são importantes. Aprendeu a dar-lhes o valor da rotina necessária para manter a vida viva. Sabe que não pode renunciar e, embora tenha perdido as pernas, pode ainda exercer a sua competência de gestão familiar mesmo que a casa seja agora só ela e o marido.
Venha dona Ermelinda, está tudo pronto, o pão é fresco. Mas não havia ainda de ontem? Sim, mas como é costume à quinta vir a dona Adelina bem…trouxe uma dúzia.
Venha dona Adelina trazer alguma alegria e distracção a esta mulher e libertar-me um pouco…que vida…isto não é vida.
Ermelinda está agora à janela da cozinha. É de tarde, o princípio da tarde. O sol já está na curva descendente se bem que nesta época do ano ande baixinho, rente às serras. Os raios oblíquos desenham a sombra das cortinas na parede repleta de utensílios. O marido já veio almoçar e já foi trabalhar de novo. A empregada está na sala a passar a ferro. Não, não pode ter empregada, não tem condições, mas que podia fazer? É o dinheiro da reforma que vai inteirinho para ela, mas havia outra solução? Ermelinda espreita a rua agora acalmada com as lombas de cimento que foram colocadas, ouve nitidamente o tiquetaque do relógio que marca as duas e quinze. Os carros passam mais devagar. Por vezes um ou outro ignora as lombas e os semáforos e é ouvir o roncar dos motores como numa pista de rali. Adelina avança devagar pelo passadiço.
Venha dona Ermelinda, está tudo pronto, o pão é fresco. Mas não havia ainda de ontem? Sim, mas como é costume à quinta vir a dona Adelina bem…trouxe uma dúzia.
Venha dona Adelina trazer alguma alegria e distracção a esta mulher e libertar-me um pouco…que vida…isto não é vida.
Ermelinda está agora à janela da cozinha. É de tarde, o princípio da tarde. O sol já está na curva descendente se bem que nesta época do ano ande baixinho, rente às serras. Os raios oblíquos desenham a sombra das cortinas na parede repleta de utensílios. O marido já veio almoçar e já foi trabalhar de novo. A empregada está na sala a passar a ferro. Não, não pode ter empregada, não tem condições, mas que podia fazer? É o dinheiro da reforma que vai inteirinho para ela, mas havia outra solução? Ermelinda espreita a rua agora acalmada com as lombas de cimento que foram colocadas, ouve nitidamente o tiquetaque do relógio que marca as duas e quinze. Os carros passam mais devagar. Por vezes um ou outro ignora as lombas e os semáforos e é ouvir o roncar dos motores como numa pista de rali. Adelina avança devagar pelo passadiço.
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