sábado, janeiro 08, 2005

belavista


A view forever fixed, Eleanor McGowan

A estrada situa-se mesmo no topo da serra. Uma serra de pouca altitude comparada com as outras que lhe fazem face a leste. Se grande parte do trajecto é feito por entre pinheiros e eucaliptos há, no entanto, uma povoação que foi literalmente cortada a meio, para além da divisão natural que comportam as encostas das serras. A estrada tem duas faixas de rodagem em cada sentido e propicia-se a altas velocidades o que veio trazer grande polémica e obrigou as entidades competentes a repensar o famigerado troço da estrada naquela povoação já com um historial de atropelamentos de fazer inveja a muitas outras que tanto contribuem para as estatísticas rodoviárias no país.

Ermelinda está sentada na cadeira de rodas depois de ter sido lavada e vestida. Vê o nascer do sol pela janela. A bola amarela insinua-se na claridade desenhando com nitidez sideral o contorno irregular das cristas das diferentes serras que se revelam ao olhar com parcelas de pinheiros e de jovens eucaliptos cuidadosamente separados por estradas de terra batida. Estes são momentos de recolhimento e de reflexão. São escassos momentos. O quintal lá está no terreno em declive com as capoeiras ao fundo. Ermelinda ouve a agitação na cozinha, um cheiro a cevada invade o quarto. Não tarda nada a empregada virá buscá-la para o pequeno-almoço.

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