terça-feira, fevereiro 01, 2005

o onze


gasómetro

Vinham os homens de madrugada com os bicos dos gasómetros a marcar a cadência dos passos. Eram vultos negros animados por pontos de luz trémula que calcorreavam as estradas macadamizadas, lamacentas no Inverno. Era duro, muito duro.
Iam as mulheres lavar as roupas sujas de carvão para o rio, ali, junto da Central onde hoje estão instalados os Bombeiros. A água do rio também era preta, para condizer com a terra, a terra preta.
Aqui, no fundo do poço de S. Vicente era uma cidade electrificada. O cavalete era o último grito da engenharia industrial, o único em Portugal. A maquinaria era avançada. Muitos estrangeiros, ingleses e alemães e a modernidade.
As zorras, as cestas, os rostos, tudo preto, mal dava para reconhecer emoções.
O onze, que vinha do Bolhão e dava a volta na Adega Azul, já queria levar todos daqui para fora, trabalhar no Porto. Ou então para as colónias ou para França, a salto. Isto era uma cidade subterrânea. Depois o tempo foi roendo, roendo… O IPPAR já sinalizou o cavalete, há muito tempo.Só sinalizou.
O que se faz com as memórias?

Sem comentários:

Arquivo do blogue

mail