sexta-feira, fevereiro 25, 2005

"otaku"


Tenshi Muyo

Há dias em que levantar da cama é um autêntico sacrifício. Para Simão é sempre um sacrifício. Simão apercebe-se do movimento pela casa, a rádio que o pai liga tão logo se põe a pé, a água da casa de banho em vários tons, a sanita, o lavatório, a banheira, a mãe na cozinha a mexer em pratos, chávenas, talheres, o cheiro do café. Então cobre a cabeça e espera o som do despertador fazendo daqueles minutos uma eternidade.
O relógio toca, a mãe chama, o pequeno-almoço na mesa à espera e o corpo lento, amolecido, que não quer deixar o quente da cama. Olha o armário, escolhe a roupa, a mãe a chamar, o pequeno-almoço na mesa descaído. O corpo reclama a casa de banho, aguenta-se de pé seguindo um bocejo interminável que começa na boca, continua na cara e termina nas orelhas, acompanhado por um passo mais ou menos decidido. A mãe não chama, o pequeno-almoço está frio, os minutos continuam a sua marcha. Já? Pega na mochila, bate a porta e está na rua.
O ar fresco muda o astral de Simão, agora está de facto acordado. A escola fica a quinhentos metros de casa, mas está em cima da hora. Deve alargar o passo, Xana rir-se-á dele se o vir de novo a entrar na sala atrasado com aquela cara de quem não sabe mentir. Não pode chegar atrasado.

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