domingo, março 27, 2005

ecce homo

homo-1

Ninguém viu, ninguém ouviu, mesmo que uma ou outra cortina tivesse abanado por trás das vidraças embaciadas, mesmo que o som discreto de passos tivesse ecoado pelo chão.
Num lugar ermo, não muito distante da vila, o carro parou, os homens saíram e puxaram Dirceu para fora. Ali mesmo, sem palavra alguma, aplicaram-lhe golpes contundentes que o deixaram inerte no chão, entraram no carro e arrancaram.
Dirceu respirava com dificuldade.Não conseguia abrir os olhos e sentia a roupa colada ao corpo. Estava encolhido, todo o corpo doía, não conseguia mexer-se. Ouvia o ar que circulava por entre os arbustos, a boca sabia a terra e a sangue e começou a sentir frio.
Foi encontrado já era dia. Depois da polícia, veio a ambulância que o levou à urgência. Por entre os rostos que o olhavam reconheceu Cláudio, mas não tinha força para articular fosse o que fosse.
Cláudio foi chamado a depor. Da discoteca apresentaram uma queixa contra um indivíduo brasileiro que provocou grande confusão e que ofereceu resistência, pelo que tinha sido necessário usar a força para o colocar fora do recinto. O relato concluía com a indicação do estado de embriaguez em que o rufião se encontrava.
Cláudio negou que o amigo estivesse bêbado, que tivesse provocado qualquer desacato, que tivesse sequer sido abordado por algum segurança. O processo ia seguir os trâmites legais. Era preciso arranjar testemunhas.

Sem comentários:

Arquivo do blogue

mail