quarta-feira, abril 06, 2005

descoberta




“Ao quintal chegava-se através da porta estreita da cozinha. E se é verdade que a cozinha era escura, nem por isso se deixavam de ver os objectos, as panelas de alumínio, e as gordas caçarolas, os púcaros e as tigelas de esmalte…Mas sobre isso passava-se de largo, sem realmente olhar, corria-se em direcção ao quintal, como se se fosse sugado pela luz, cambaleava-se transpondo a porta, porque se ficava cego por instantes, apenas o cheiro e o calor nos guiavam, nos primeiros passos – o cheiro a terra, a erva, a fruta demasiado madura – chegando até nós no vento morno, como um bafo de animal vivo.”

Teolinda Gersão, A Árvore das Palavras

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