
Tony Stromberg
Se não estivesse toldado pelo desânimo, a imagem daquele ser enigmático poderia trazer-lhe lembranças de uma vida que nunca vivera mas que o habitava, uma sensação de reconhecimento de um espaço que, em circunstância alguma, ele frequentara. Mas Lourenço tinha pressa, pressa em encontrar uma solução, não podia ficar ali sentado.
Ficou ali sentado e viajou para longe em muitas direcções. A irmã, a irmã podia ajudá-lo, não tinha ela uma vida tão folgada? Não ia todos os anos e, às vezes, mais que uma vez, para o estrangeiro? Não ajuda, não! O tio, o irmão da mãe? Pois, esse diria logo que está tudo muito difícil, que os negócios não avançam, que são muitos encargos, que. Não! Amigos. Amigos? O Paulo, sim o Paulo. Podia dizer ao pai que era apenas mais um adiantamento da parte que lhe cabia da herança da mãe. Já não o fez? Sim, o pai ficou furioso, rugiu de raiva como o Adamastor, mas lá lhe deu o necessário para comprar a moto que tanto desejava. Estaria disposto o Paulo a enfrentar outra vez o mar encapelado para socorrer um amigo, assim com a pressa de se querer tudo para ontem? Não! A mãe? Não. Já tinha despachado tudo, o ouro, os objectos de valor, já o tinha desancado de todas as maneiras possíveis e imaginárias como só as mães sabem fazer. Restavam apenas aquelas acções que ele sabia no banco em seu nome. As acções que a madrinha lhe tinha deixado, que estavam esquecidas e eram sempre lembradas em situações de aflição pela mãe, mas que foram resistindo. E então agora, não é o momento de ir buscá-las? É! Fez dezoito, já ama e sente-se amado. Ainda quer partir. Só quer partir. O mais cedo possível. Já.
Ouviu uma forte explosão dentro do banco e sentiu-se projectado para a rua no meio de estilhaços e de gritos. Correrias, sirenes, sangue, névoa, anestesia das emoções, o céu lá longe, muito longe.
Lourenço estava deitado no chão, as pernas encolhidas e inertes. Tentou virar a cara para ver os olhares indefinidos à sua volta, sentiu o som de tropel a ressoar no ouvido anteriormente colado ao empedrado, o gosto adocicado e estranho do seu próprio sangue, os pedacinhos de vidro entalado na pele cortada numa sinestesia de horror. No meio da pessoas distinguiu o homem que o olhava como da primeira vez e que continuava a estender-lhe a mão. Lourenço compreendeu, ele estava ali não para pedir mas para receber. Fechou os olhos e sentiu-se levado no dorso do cavalo de bronze para uma viagem inesperada e definitiva.
Ficou ali sentado e viajou para longe em muitas direcções. A irmã, a irmã podia ajudá-lo, não tinha ela uma vida tão folgada? Não ia todos os anos e, às vezes, mais que uma vez, para o estrangeiro? Não ajuda, não! O tio, o irmão da mãe? Pois, esse diria logo que está tudo muito difícil, que os negócios não avançam, que são muitos encargos, que. Não! Amigos. Amigos? O Paulo, sim o Paulo. Podia dizer ao pai que era apenas mais um adiantamento da parte que lhe cabia da herança da mãe. Já não o fez? Sim, o pai ficou furioso, rugiu de raiva como o Adamastor, mas lá lhe deu o necessário para comprar a moto que tanto desejava. Estaria disposto o Paulo a enfrentar outra vez o mar encapelado para socorrer um amigo, assim com a pressa de se querer tudo para ontem? Não! A mãe? Não. Já tinha despachado tudo, o ouro, os objectos de valor, já o tinha desancado de todas as maneiras possíveis e imaginárias como só as mães sabem fazer. Restavam apenas aquelas acções que ele sabia no banco em seu nome. As acções que a madrinha lhe tinha deixado, que estavam esquecidas e eram sempre lembradas em situações de aflição pela mãe, mas que foram resistindo. E então agora, não é o momento de ir buscá-las? É! Fez dezoito, já ama e sente-se amado. Ainda quer partir. Só quer partir. O mais cedo possível. Já.
Ouviu uma forte explosão dentro do banco e sentiu-se projectado para a rua no meio de estilhaços e de gritos. Correrias, sirenes, sangue, névoa, anestesia das emoções, o céu lá longe, muito longe.
Lourenço estava deitado no chão, as pernas encolhidas e inertes. Tentou virar a cara para ver os olhares indefinidos à sua volta, sentiu o som de tropel a ressoar no ouvido anteriormente colado ao empedrado, o gosto adocicado e estranho do seu próprio sangue, os pedacinhos de vidro entalado na pele cortada numa sinestesia de horror. No meio da pessoas distinguiu o homem que o olhava como da primeira vez e que continuava a estender-lhe a mão. Lourenço compreendeu, ele estava ali não para pedir mas para receber. Fechou os olhos e sentiu-se levado no dorso do cavalo de bronze para uma viagem inesperada e definitiva.
laerce
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