terça-feira, abril 12, 2005

noite e dia


Marta Gottfried, Destiny


Toda a noite se andava livre, e podia-se trocar de pele a cada instante.
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Podia-se ser tudo, e de manhã voltava-se. Mas mesmo de olhos abertos, nada era diferente.
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O dia não quebrava os sonhos, podia-se dormir de olhos abertos, e a vida era gozosa e fácil como o jogo e o sonho. Podiam-se abrir os braços e gritar: Eu vivo- mas não era necessário esse gesto exultante e excessivo, as coisas eram tão próximas e simples que quase não se reparava nelas Saía-se por exemplo a porta da cozinha sem se dar conta de transpor um limiar. Não havia separação entre os espaços, nem intervalos a separar os dias. Porque o corpo ligava a terra ao céu.

Teolinda Gersão, A Árvore das Palavras


Mas que paraíso é este? Alguém provou o fruto proibido? Ou apenas cresceu? Que memórias africanas ficam nos que nunca foram a África? E nos que foram e voltaram?

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