sábado, abril 02, 2005

tão longe ll


John Horseweell, Spring (com efeitos)


Entrou em casa e lembrou-se de telefonar à mãe. Durante toda a tarde não pensara nos filhos, envolvida que estava na ansiedade da renda. Sem eles, a casa repousava num silêncio comprometido e vazio, preenchido com as imagens da televisão que Joana mantinha sem som. Sentiu o peso da noite. Tinha pensado preparar um jantar diferente, podia ser que.
Telefonou, falou com a mãe, com os filhos que disputavam o auscultador para dizerem tudo bem e correrem para a playstation e depois sentou-se no sofá, olhando a televisão. Não faria nada em casa. No ecrã desfilavam alinhados os programas, mas Joana só via os anúncios dos casais perfeitos que se olhavam na cumplicidade de um segredo que, no seu caso, se tinha desvanecido na tirania do quotidiano, sem saber muito bem como. Sentiu-se traída. Tinham falado os dois. Ele disse-lhe que viria. Que conversariam como adultos civilizados, como sempre tentaram fazer. Ela decidiu que os miúdos iriam para a mãe, que estaria mais à vontade, quem sabe. Lá fora o cão ladrou e Joana afastou a cortina para espreitar a estrada negra. Foi à cozinha, preparou a comida para o cão que aguardava agitado a refeição, fez-lhe uma festa antes de entrar e fechar a porta. Pegou num pacote de bolachas e foi sentar-se outra vez diante da televisão.

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