sexta-feira, abril 01, 2005

tão longe

David-Short-Spring-Blossoms
David Short, Spring Blossoms



Joana acreditou sempre que ele viria. Sentada nas escadas que davam para o alpendre, aguardou pacientemente durante toda a tarde. Sentia o calor primaveril invadir os campos em volta. As árvores de fruta no quintal apresentavam-se floridas e as folhas tenras dos arbustos revelavam novos tons de verde. As roupas pesadas já tinham aliviado o corpo e Joana estava esperançada que a natureza seria o pano de fundo da sua felicidade. A ansiedade percorria-lhe as veias como o próprio sangue, mas controlava-se fazendo renda. Tinha uma fé interior que a animava como se estivesse iluminada. De vez em quando deitava um olhar prolongado para a curva da estrada. Um olhar que descia lentamente até à renda e se detinha no desenho cada vez mais nítido das linhas entrelaçadas.
Com o passar do tempo, o movimento da agulha foi-se desvanecendo e o pôr-do-sol lembrou a Joana que devia entrar. A sua vida não era só fazer renda e esperar. Muitas coisas estavam à espera dela. Deitou um olhar à volta, as cores estavam em repouso, a curva da estrada obscurecida, o Palerma foçava a terra atraído por sons estranhos. A esperança de Joana tinha esmorecido.Dobrou a renda e guardou tudo no cesto.

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