Está bem. Conto-te uma história. Descreverei o espaço, inventarei um tempo e direi quem são as personagens. A acção é que não poderei expor com nitidez porque tudo vai depender do destino e sabemos muito bem que o destino é uma incógnita, embora quanto a personagens isso pareça mais fácil. Esforçar-me-ei por traçar o caminho revelando indícios e dispondo informantes que dêem pelo menos a segurança do aparentemente real
Se estiveste atento, verificaste que apliquei aqui as categorias que te ensino e me ensino há anos nestas andanças de perceber o que é isso de narrar. Tenho-as presentes sempre que quero iniciar uma história e quando penso nelas o nome que me ocorre mais é Roland Barthes porque era lúcido na sua embriaguez de sabedoria e marcou com a sua paixão uma época de paixões.
Adiante. Temos então de imaginar um palco. Não propriamente um palco, uma arena. É mais confortável ver as personagens de cima, podemos detectar melhor os movimentos e verificar as marcações no chão feitas a giz Será este o espaço. Digamos antes, o espaço fictício onde vou colocar uma sala verdadeira, normal. Está bem, imagina tu a sala, podes imaginá-la por enquanto. Para que saibas, as marcações que atrás referi são o destino, digamos inicial. As personagens sabem que o irão cumprir, decoraram-no aparentemente bem e devem estar prontas.
Estão prontas e estáticas. Uma, a mulher mais velha está lá atrás, na penumbra com um xaile pelas costas ligeiramente curvada. Outra, a mulher nova está mais à frente com os braços estendidos para o homem que, de costas para ela, apressa-se a partir. Não sei ainda a relação entre eles, não os vesti também, à excepção do xaile, nem disse a cor dos cabelos. Por enquanto são manequins apenas, mas por tudo o que referi já se pode estabelecer um princípio de tensão. Dirás que isto é teatro e que estou a misturar aqui os géneros literários que vêm tão distintos nos manuais. Concordo que estou a misturar e faço-o de propósito para que sintas a vida assim, um pouco disto, um pouco daquilo.
A sala referida pertence a uma casa situada numa vila mineira e o tempo é a Primavera de 72, data do encerramento da mina.
Se estiveste atento, verificaste que apliquei aqui as categorias que te ensino e me ensino há anos nestas andanças de perceber o que é isso de narrar. Tenho-as presentes sempre que quero iniciar uma história e quando penso nelas o nome que me ocorre mais é Roland Barthes porque era lúcido na sua embriaguez de sabedoria e marcou com a sua paixão uma época de paixões.
Adiante. Temos então de imaginar um palco. Não propriamente um palco, uma arena. É mais confortável ver as personagens de cima, podemos detectar melhor os movimentos e verificar as marcações no chão feitas a giz Será este o espaço. Digamos antes, o espaço fictício onde vou colocar uma sala verdadeira, normal. Está bem, imagina tu a sala, podes imaginá-la por enquanto. Para que saibas, as marcações que atrás referi são o destino, digamos inicial. As personagens sabem que o irão cumprir, decoraram-no aparentemente bem e devem estar prontas.
Estão prontas e estáticas. Uma, a mulher mais velha está lá atrás, na penumbra com um xaile pelas costas ligeiramente curvada. Outra, a mulher nova está mais à frente com os braços estendidos para o homem que, de costas para ela, apressa-se a partir. Não sei ainda a relação entre eles, não os vesti também, à excepção do xaile, nem disse a cor dos cabelos. Por enquanto são manequins apenas, mas por tudo o que referi já se pode estabelecer um princípio de tensão. Dirás que isto é teatro e que estou a misturar aqui os géneros literários que vêm tão distintos nos manuais. Concordo que estou a misturar e faço-o de propósito para que sintas a vida assim, um pouco disto, um pouco daquilo.
A sala referida pertence a uma casa situada numa vila mineira e o tempo é a Primavera de 72, data do encerramento da mina.
laerce
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