Parc Yourcenar, Pas de Calais
Pensava levar A Obra ao Negro comigo para férias à beira-mar. Com certeza não a leria. É uma edição antiga, nunca folheada. Estava ali a olhar para mim de uma forma discreta e quando via ou ouvia alguma coisa acerca da autora, lembrava-me do livro à minha espera. Já estou quase a terminar a leitura. Agora sei que nunca o deveria levar para férias. É, digamos, denso de mais, para que eu me possa distrair. A personagem principal, Zenão, faz-me lembrar a personagem Pico de Mirandola, de O Homem que sabia tudo; ou mesmo Joana, de A Papisa Joana. Mas estes dois últimos livros podem muito bem ir de férias connosco. Yourcenar é algo à parte.
Ainda há pouco, ao dar com o caminho no labirinto das vielas de Bruges, julgara ele (Zenão) que uma paragem destas, assim afastada das grandes rotas da ambição e do saber, havia de proporcionar-lhe um certo repouso, após trinta e cinco anos de agitação. Contava encontrar a inquieta segurança de um animal consolado com a estreiteza e a obscuridade da toca que escolhera para viver. Enganara-se.
Marguerite Yourcenar, A Obra ao Negro
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