a cor do abismo
Joyce Dale
O braço adormecido à volta de um poema
inacabado em cima da mesa. Um poema desamarrado
e o sangue dentro do braço a ritmar
o silêncio no ar, e a cabeça inclinada.
As palavras soltam-se e riem.
Saem do seu território que é a folha e dançam
diante da cabeça inclinada e do braço adormecido
e perguntam: então não vens? Não queres pintar aqui uma cerca?
E a cabeça inclinada não mexe.
Distrai-se com aquela ousadia e sorri voltada para dentro
e as palavras caem da mesa, naquela folia de serem livres.
Algumas agarram-se à toalha e lançam gritinhos,
outras, mudas, abafam o medo.
Todas sabem que desaparecerão
antes de chegarem ao chão.
E o braço adormecido acorda e escreve um verso
a perguntar às palavras a cor do abismo.
...
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