relógio de sol
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Devido também à vontade de um autor de muitas outras histórias não obrigatórias para exame e que andam por aí à vista dos leitores que este escritor tem bastantes. Mas agora eu procurava o relógio de sol.
Perguntei à menina guia que nos levava a percorrer os duzentos e trinta e sete metros de distância entre os aposentos do rei e os aposentos da rainha perguntei pelo relógio de sol sim vamos vê-lo vamos ao terraço e tudo isto diante da cama da última noite do último rei. A cama que pelo tamanho impedia que o rei se deitasse o rei só podia repousar recostado em almofadas trezentos e sessenta e cinco dias de cada ano de vida embora a vida fosse curta porque o rei alimentava-se muito bem e inchava e a memória da causa de morte do magnânimo voltou ali para impedir a cabeça de fazer contas à história e colocar mais dois séculos com um ponto de interrogação à frente e saber se nessa eternidade de tempo também não mudaram os hábitos de dormir mas adiante.
E apareceu um retrato de outro João o sexto dizem o clemente aquele que ocupou de facto o palácio durante um ano tendo depois ido para o Brasil e com ele muito do espólio diria eu do país assim como paga do ouro de Vila Rica agora chamada Ouro Preto de barroco estilo também mais ao jeito das igrejas deste norte aqui de onde partimos e onde chegámos já noite cerrada. O rei a ser recebido de volta com a Torre de Belém ao fundo e o Tejo e o tal inglês em primeiro plano dando a mão a uma dama dizia-se em surdina que já era a república.
Mas fazia-se tarde via-se o sol a descer e os quilómetros para casa começavam a pesar na memória do futuro que também a há e ainda tínhamos de subir ao terraço. Pelo caminho ficava a real retrete e a real escarradeira no meio de outros objectos menos repulsivos à mistura com risinhos e segredinhos e a caranguejola apenas falada e as escadas agora muito estreitas aqui temos muitas das ferramentas que serviram para a construção do convento e mais escadas para o interior da cúpula da basílica. A vertigem dizem uns a atracção do abismo diz alguém e a parede protege da atracção do abismo no semicírculo que leva à porta do terraço e uma vasta paisagem dourada muito dourada a coroar o dia no horizonte.
Menina o relógio de sol preciso de o fotografar para um trabalho outro igualmente importante diga-me sim. Pois olhe bem ainda não sei parece que fica naquela direcção por ali há dois mas ainda não sei onde. E não vi o relógio de sol. Já no terreiro alguns soldados que sempre os houve por ali e no livro obrigatório também. Só sobrou tempo para comprar os fradinhos típicos doces e partir.
Ano de dois mil e seis Janeiro nove. Para que conste.
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