terça-feira, abril 04, 2006

'coração de ouro'




Nota preliminar: Não, não me enganei, é que não encontrei na net corações de ouro, por isso, é de prata este. O trabalho é o mesmo.



Domingo à noite, José Hermano Saraiva dedicou o programa que passa na dois, às nove e meia, à minha terra. Nunca pensei que a minha terra merecesse tantos elogios pelo grande desenvolvimento dos últimos anos. Até parece que não estamos para aí a receber fundos e mais fundos e que alguma coisa não deveria aparecer. Mas o afamado historiador lá foi bater à porta do que de facto sei da minha terra: a filigrana.

Éramos todos artesãos de ourivesaria, o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs, eu. Queres saber? O meu pai preparava as peças como o artesão que apareceu na televisão, a minha mãe e nós enchíamos as peças: em cima de um vidro com um pano preto por baixo para evitar os reflexos da luz, fazíamos os esses e as escamas com uma buchela que, depois de colocadas dentro da peça, eram cortadas com uma pequena tesoura à medida. A estabilidade do conteúdo das peças era tão precária que, muitas vezes, um pequeno movimento e lá ia o trabalho de um dia por água abaixo. Os esses ficavam espalhados como minusculazinhas peças de puzzle sobre a mesa. Que desânimo! Que qualidades tínhamos que treinar? Paciência? Perseverança? Sim, e mais uma grande ânsia de largar tudo.

Por isso, não acredito que as pessoas que ainda trabalham nessa área sejam pessoas felizes com o que fazem, o trabalho deve continuar a ser muito mal remunerado, mesmo os grandes ou maiorzinhos artesãos estão a passar por uma crise, a acreditar no que dizem oficialmente. Hermano Saraiva foi simpático com a minha terra, mas não falou da minha terra.
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