sábado, outubro 14, 2006

experiências



Isabel Magalhães


Perdoem-me se não sou coesa no que daqui para a frente vão ler. É impossível olhar para o meu cérebro e separar as coisas. Neste momento, estou com os meus olhos virados para dentro e para cima, para o meu cérebro, assim como se estivesse a olhar para o céu. O céu é o meu cérebro e as constelações estão todas baralhadas. Vocês sabem que eu gosto de constelações, embora não saiba nada sobre elas, embora vezes sem conta tentasse decorar os nomes. Até agora não consegui, mas prometo, mesmo, que vou tentar. Já perceberam há muito tempo que aquilo de que estou a falar são ideias, as constelações são ideias, pronto, uma metáfora.
Disseram-me hoje que deveria começar a ter um diário. Vejam bem, um diário. Agora que tudo está mais do que automatizado, que tenho horas para tudo, que sei exactamente o valor dos dias contados até ao fim do mês, que espero outro mês, que digo assim como dizem os meus mais velhos: tudo passa tão depressa, daqui a nada vem o dia dos fiéis e depois já é natal e eu penso no frio, o verdadeiro frio, que vamos sentir, penso nas manhãs de luz mais preguiçosas do que eu e nas noites apressadas em nos cobrir e vejo ainda aí o meu lado juvenil e rio porque até acho bem ter um diário.
Pois que eu devia ter um diário foi uma das frases que retive, eu explico: sexta-feira, treze de outubro, das oito e trinta até às dezoito horas, com escassos minutos para uma sandes, um sumo e um café, estive dentro de uma sala recheada de livros a ouvir falar de literatura. Boa, então não é isso que te interessa? Não gostaste, foi? Não quero desafios, claro que gostei, mas eu tenho um corpo e dói-me a cabeça e a literatura a competir com as dores de cabeça não sei bem quem ganha. Cá vão as constelações: mito do eterno retorno, (uma negação de mudança no fio das histórias, deprimente, não?); estudar literatura é estudar dragões (dragonlogia); a retórica, a memória (voltar a falar aos alunos a importância da memória na aprendizagem); a península ibérica no século doze, o principio das literaturas peninsulares, a influência da occitânia em toda a literatura peninsular (grande descoberta para mim, o primeiro texto em galego-português foi escrito no reino de navarra), a idade média da cavalaria e a idade média dos monges, a dama do lago, lancelot, o triunfo da morte, a as trevas que o barroco e o romantismo irão recuperar. Brueghel esteve lá com um quadro, eu pensei em bosch e em goya.Pensei também que a treze de outubro de 1307, sexta-feira, a ordem dos templários foi extinta (definitivamente?). É devido a este acontecimento que as sextas-feiras treze são consideradas dias de azar. Vi jacques de molay a arder na fogueira e quase juro ter ouvido o rei filipe, o belo, a gargalhar enquanto o papa clemente se recolhia para orar.
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