sexta-feira, novembro 03, 2006

a capuchinho vermelho



Lynn Stone

Desta vez a capuchinho vermelho iria apanhar o lobo mau. Seria a sua grande missão, mesmo que lhe custasse a simpatia dos leitores e o seu lugar na história viesse mais cedo ou mais tarde a ser revisto. A avozinha há muito que morava num lar da terceira idade, a desfrutar de uma qualidade de vida muito superior àquela da casa na floresta, graças à choruda reforma que o estado lhe atribuíra por ter de fingir-se doentinha na cama à espera da netinha. Mas, o facto da avozinha já não morar ali não era motivo para se ignorar o lobo que continuava a querer ter um papel importante na história e com certeza descurava as lições que tinha de ensinar às crianças da aldeia. Por isso, o lobo mau foi condenado. Não pensasse que ia ser sempre um privilegiado, com tanto tempo para descansar, tão poucas horas de trabalho, tantas férias. Deixá-lo espernear e uivar que tinha direitos, deixá-lo pensar que seria sempre livre e que era uma personagem importante, logo se veria quem era quem. Instruída pela mãe, que muito orgulho tinha naquela filha, a capuchinho vermelho não podia esquecer duas regras básicas para o sucesso do plano traçado. A primeira era espalhar por toda a parte que o lobo mau estava muito gordo. Gordo de mais para uma aldeia com tantas dificuldades, o que só podia significar que vivia à custa da miséria do povo e que não fazia sentido nem ficava bem na história um lobo gordo para gente tão minguada; a segunda regra nunca deveria ser esquecida: a capuchinho jamais poderia alterar o tom de voz pois toda a gente sabe que quando se grita, perde-se a razão.
Sempre a repetir estas duas regras, a capuchinho entrou de novo na floresta.


(cont.)

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