sábado, setembro 22, 2007

cidades eternas com chuva




Ainda na capital da hungria alguém começou a sussurar insistentemente os lugares que por algum motivo estavam associados à imperatriz – perdoa-me carlos, será sempre sissi. A fachada esteticamente irrepreensível na conjugação harmoniosa de pedra, ferro e vidro da estação ferroviária, terminal das frequentes viagens que o mito ainda em carne e osso fazia entre viena e budapeste, a avenida principal de peste, a andrássy, que leva o nome de um dos seus. A ópera com o eterno camarote imperial vazio, depois de francisco josé ali haver permanecido durante dez minutos que poderiam, porque a beleza também não ocupa lugar, poderiam roubar os louros a viena. O camarote lateral reservado a sissi (sem o imperador sissi era menos imperatriz), a cuja entrada se encontra o já referido espelho onde mirava a anorexia que lhe mantinha a cintura a cinquenta centímetros, uma estranha hipérbole, e a pastelaria preferida, perto da igreja de matias do outro lado da ponte das correntes, plena de doçarias tentadoras que com certeza só saborearia com os olhos. Nunca imaginei que sissi se impusesse tão intensamente quando decidi conhecer um pouco de budapeste e viena, mas cedo compreendi que me tinham oferecido um fio, o fio de sissi aridane, e que isso era um sinal para não me perder no labirinto. Em viena no entanto perdi-o muitas vezes, havia outros sons, outras cores, outros mitos que se impuseram muito antes da viagem concreta com data marcada, um deles era saborear o café vienense. Carlos explicou muito bem o ritual do copo de água: o verdadeiro café vienense é servido numa chávena média, acompanhada de um copo de água numa pequena bandeja oval de prata. O copo de água é o convite a permanecer o tempo que se entender dentro do café sem o deseja algo mais do empregado ansioso por nos ver pelas costas. Convite que se torna mais claro quando o copo fica vazio e o dito empregado silencioso o substitui por outro cheio, num gesto de entendimento e cumplicidade. Claro que não me foi possível cumprir todo o ritual, afinal estava no café de freud com os minutos contados como estivera no jardim. Não sei se freud alguma vez tratou da irmã de aridane, fedra, a torturada mulher de teseu, apaixonada pelo enteado hipólito. Lembro-me apenas que pensei no dia anterior à entrada de schonbrunn, revi a figura de carlos e, como o próprio sugeriu o dever de cuidar do verbo, recitei mentalmente os majestosos versos de phèdre de racine: je le vis, je rougis, je pâlis à sa vue.

foto: viena, burgtheater.

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