quinta-feira, fevereiro 28, 2008

enquanto o verniz não estala





Sou feliz só por preguiça diz alguém logo assim à queima-roupa, em Mar Me Quer, de Mia Couto. E o leitor deixa-se levar nessa felicidade de personagem em doce moleza de palavras com o sabor das estações, esquecendo por momentos o quotidiano de dureza e contrariedade. Não recordo agora o destino desta suave voz, da qual sobreviveu na minha memória apenas este pedaço de frase que misturo com a vaga informação de um duplo homicídio seguido de suicídio. Pensa-se ter sido o sucedido hoje, que o sangue sabe a fresco e os gritos, se houve tempo, ainda escorrem pelas paredes numa anónima casa em Loures que a comunicação social se encarregará de iluminar e que leio na net a conta minutos, passados quatro dias de Clix avariada, o que me deixa fora do circuito de manutenção virtual.
Afundada no século dezasseis à procura de cancioneiros de mão que fundamentem a espiritualidade e a nação literária sebástica, com ele, regresso ao tempo nosso de cada dia e não posso calar que a pátria continua a fabricar grandes portugueses e portuguesas e que esses mesmos portugueses e portuguesas não estão escondidos nos cantos lusíadas que a Mensagem ronda sempre, mas que nos governam do Olimpo luminoso, inscrevendo finalmente a modernidade e o progresso no código genético lusitano. E sem dúvida que o foco está sobre a Educação. Não foi à toa que quem comanda agora a nau atolada em mandriice e indigência há tantos anos, trinta de escola sem qualidade, atou as mãos ao leme e com os cabelos ao vento e uma delicada voz de sereia serena e segura encanta os restantes portugueses enquanto os professores de triste figura vêem fantasmas onde, diz ela, apenas há moinhos, e se reúnem ao sábado nas praças do país como se estivessem em Fátima a dizer adeus a uma virgem com pés de barro, conscientes que a maré pública se deixou hipnotizar pelas certezas incertas que ficam bem no discurso, ou melhor, pelo discurso.
Que nunca os professores se recusaram a ser avaliados, isso que interessa? Que a divisão titular e os outros foi fruto de arbitrariedade porque sim, que importa? Que se validem mentiras com cara de verdade, como disse o inconveniente professor de Matemática no programa Prós e Contras, quem acredita? Que no final os grandes problemas educativos continuem a ser grandes apesar das estatísticas, quem reflecte? O que vale mesmo são as frases bonitas que embalam adesões. A realidade é dos professores!


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