justiça que manda fazer
O tio-avô não queria aquele lugar, não queria, pronto. Já lhe chegavam as responsabilidades com a salvação das almas do reino, porquê logo ele? E depois a idade, como resolveria isso. E sem filhos. Sem nunca. Não podia. A cunhada catarina lá o deixaria em paz enquanto o outro sobrinho em primeiro grau, o rei poderoso tem tudo o quer só não tem um fecho éclair, aguardava de fonte fidedigna o desenrolar dos factos, cristóvão de moura a serviço de sua majestade. O que fazer então. Como conter esta sangria e salvar o império de mar. Sim, claro que a rota da seda já era conhecida há séculos e os portos mais a norte há muito comerciavam especiarias, tecidos multicolores, pedras preciosas, animais exóticos, arte e mais arte e mais cultura e mais civilização e tudo. Mas daqui, deste rosto europeu dito por pessoa mensageiro, daqui deste rosto, a pimenta cheira a mar, os lusíadas cheiram a canela. Tudo bem que o sol não gira em volta da terra, mas as ninfas existem por mais que a ciência prove o contrário e um canto épico criará sempre ilhas afortunadas, ítaca pois, vestida em português, povoada de mitologias mais redentoras que as dos tempos modernos. Os tempos dos velhos do restelo, sábios anciãos, que já viram a roda da fortuna dar muitas voltas e sabem ler os indícios, embora os factos de papel passado é que contem, para todos os efeitos. E se do presente ainda não há papel passado, naquele distante décimo sexto século da era cristã tudo está nos anais e o tio-avô do desejado sabia. Sabia que o pai manuel ambicionava uma união, temia que tal acontecesse um dia, um pressentimento, vá, um presságio, uma premonição, uma leitura atenta da realidade. Mas henrique não desejava essa união, não queria o sobrinho filipe, não queria o sobrinho antónio, bastardo amado do povo, não queria estar ali a decidir sobre causas terrenas. E, para adiar a noite imberbe nascida em alcácer-quibir, fez descer sobre si os fantasmas e conteve-os com o pulso da incerteza. Até ao fim.
O tio-avô não queria aquele lugar, não queria, pronto. Já lhe chegavam as responsabilidades com a salvação das almas do reino, porquê logo ele? E depois a idade, como resolveria isso. E sem filhos. Sem nunca. Não podia. A cunhada catarina lá o deixaria em paz enquanto o outro sobrinho em primeiro grau, o rei poderoso tem tudo o quer só não tem um fecho éclair, aguardava de fonte fidedigna o desenrolar dos factos, cristóvão de moura a serviço de sua majestade. O que fazer então. Como conter esta sangria e salvar o império de mar. Sim, claro que a rota da seda já era conhecida há séculos e os portos mais a norte há muito comerciavam especiarias, tecidos multicolores, pedras preciosas, animais exóticos, arte e mais arte e mais cultura e mais civilização e tudo. Mas daqui, deste rosto europeu dito por pessoa mensageiro, daqui deste rosto, a pimenta cheira a mar, os lusíadas cheiram a canela. Tudo bem que o sol não gira em volta da terra, mas as ninfas existem por mais que a ciência prove o contrário e um canto épico criará sempre ilhas afortunadas, ítaca pois, vestida em português, povoada de mitologias mais redentoras que as dos tempos modernos. Os tempos dos velhos do restelo, sábios anciãos, que já viram a roda da fortuna dar muitas voltas e sabem ler os indícios, embora os factos de papel passado é que contem, para todos os efeitos. E se do presente ainda não há papel passado, naquele distante décimo sexto século da era cristã tudo está nos anais e o tio-avô do desejado sabia. Sabia que o pai manuel ambicionava uma união, temia que tal acontecesse um dia, um pressentimento, vá, um presságio, uma premonição, uma leitura atenta da realidade. Mas henrique não desejava essa união, não queria o sobrinho filipe, não queria o sobrinho antónio, bastardo amado do povo, não queria estar ali a decidir sobre causas terrenas. E, para adiar a noite imberbe nascida em alcácer-quibir, fez descer sobre si os fantasmas e conteve-os com o pulso da incerteza. Até ao fim.
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