Se a infância fosse um lugar a que sempre se volta, com cheiros a campos de flores e um sol quente a crestar o chapéu vermelho na cabeça da mãe enquanto ouvia a última viagem do tio a santiago de compostela, poderia finalmente pedir a palavra e dizer que também já abracei o santo e que vi maravilhas com os olhos que a terra há-de comer. Poderia falar do majestoso altar em talha onde se encontra a sua imagem, das colunas pejadas de frutos, abundância terrena de favores divinos. Lembraria o túmulo do santo, o espaço exíguo onde cabem as preces de quantos (oh quantos deus meu!) ali chegam com fé, esperança ou curiosidade. Falaria ao tio do pórtico da glória para que ele pudesse mostrar o que sabia de todas aquelas figuras e inventar um pouco acerca das atitudes dos amigos com quem viajava. Esperaria que contasse como falou a língua estranha, o que comeu, o que comprou, e tudo seria felicidade. E se ele me perguntasse o que achei da cidade dir-lhe-ia que parecia que os anos não passaram por ela. As fabulosas praças que rodeiam a catedral, as grandiosas torres, a escada monumental, os edifícios antigos participam da magia da sua voz. Ainda que ela exista apenas na memória.
foto: catedral de santiago de compostela
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