E se de repente uma memória
Comecei a amar a Espanha, a sério, com a leitura de D. Quixote de la Mancha. Sei que em criança a Espanha eram alguns feirantes semanais no Souto, o trapezista Carlos Avelino, as canções do Rafael, os Corin Tellado que engolia às escondidas porque não tinha idade para ler porcarias. Ah... sem esquecer o choramingas do Joselito que me dava dó. Adolescente, seguia as notícias oficiais de Franco e procurava perceber a Eta como se fosse um romance de aventuras. Quando Franco morreu, já era sócia do cineclube e no cineclube vi os filmes do Saura da década de 70, O Espírito de Colmeia e Cria Cuervos, antes da sua fase flamengo. Filmes que mostram uma Espanha estagnada e uma menina, Ana Torrent, caminhando para a escola enquanto uma música de fundo trazia a tristeza e a saudade, sabe-se bem lá de quê, hoy en mi ventana brilla el sol y el corazón se pone triste contemplando la ciudad, porque te vas. Apesar da Espanha ganhar forma na minha imensa curiosidade, era apenas um país ao lado, onde tinham nascido os pintores de que se falava, Picasso e Dali, o poeta granadino de las cinco de la tarde e Yerma, que vi no Teatro Experimental do Porto, e onde lutou Hemingway contra Franco, incorporado nas Brigadas Internacionais, deixando o registo da Fiesta para eu ler mais tarde . Ficou assim muitos anos.
Com Cervantes, uma sede de assaltar a Espanha, armada de fantasia que baste e da dose certa de loucura, levou-me a uma primeira incursão. Ávila, Toledo, El Toboso, Consuegra, Ciudad Real, Córdova, Abril de 2007. E se o mal é começar, pois...então sim, muitas cidades se seguiriam.
foto: Toledo ao fundo
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