À tua...mãe
E contou-me que aquele foi o dia
mais feliz dos seus últimos tempos. Tinha ido visitar a amiga que já não via há
meses. Quatro horas de memórias amarradas em ramo de rosas de maio. Depois saiu
para a praça dos plátanos ancestrais e ali ficou sentada no banco de granito,
com a frase que estava à espera de alguém
armadilhada para quem a interpelasse, assim, à queima-roupa. Queria o silêncio
e a oração para a viagem, algo que também se consegue no meio das pessoas que
passam ou se demoram nas tardes quentes de vozes envelhecidas e reclamações contra a reforma magra ou o preço dos medicamentos, enquanto o peso das paredes vazias não
amplifica os passos inseguros em volta do fim.
Contou-me que ninguém a abordou e
depois, passo trémulo, chegou à igreja e ali ficou terço após terço diante de
Maria mãe. As pétalas perfumadas tornavam as contas do rosário menos pesadas e
os minutos em horas de meditação e fé. Foi a última a sair, noite cerrada já. O
caminho todo pela frente medido pelos muros mais baixos onde poderia descansar e ganhar forças. Chegou a casa às onze e meia da
noite, sem forças mas totalmente realizada. Perguntei-lhe se sabia que no dia
seguinte era o meu aniversário. Não, já não se lembrava.
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