sábado, novembro 27, 2004

Prelúdio


Three Windows, Montserrat Masdeu

As histórias só acontecem a quem as sabe contar”, Paul Auster



As cadeiras há muito que estavam naquele lugar. Desde sempre. De tempos a tempos, pela Primavera, eram pintadas pelo jardineiro sempre velho. Já foram brancas e verdes, agora são azuis. Os braços desenham um esse, bem metade de um esse, em contraste com o traço listrado do assento e do encosto ligeiramente inclinado.

Da janela onde se encontra, Saul vê apenas uma cadeira e metade da mesa de apoio. A outra cadeira está escondida pelo muro em ele, há muito despido das buganvílias que o vestem no Verão e dão àquele recanto um odor a segredo.

Na verdade, neste momento, a cadeira está ocupada pela mãe. Saul vê-a de costas mas, pode imaginar como se sente, depois de mais uma discussão envolvendo as notas que não descolam do sofrível e os amigos que julga serem amigos da onça como os da Lua de Joana. Em particular aquele que é um pouco mais velho e que só está matriculado em Moral e tem ideias para tudo e parece saber mais que os professores, ou tanto, pelo menos. Muito original mas que a mãe não acha piada nenhuma. Ter um amigo só matriculado em Moral! E então, não é importante?

Saul observa-a como se observasse um quadro. Aquilo era o seu mundo e já não era o seu mundo Por breves momentos pareceu-lhe que a mãe falava. Afastou mais a cortina com a cabeça para tentar vislumbrar a outra cadeira.

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