domingo, dezembro 05, 2004

prelúdio (fim)


The way home, Tandi Venter

Durante toda a infância e adolescência de Saul, o avô sempre tinha uma palavra para acalmar Luísa, o avô sempre parecia mais próximo de Saul, compreendia-o e ela ficava atrás da porta a tentar perceber uma proximidade cúmplice que nunca conseguiu com Saul. Sim tinha sonhos e tarefas, não podia estar completamente voltada para Saul, mas que mãe faz isso? As mães amam infinitamente mas o amor também é cruel e castiga, o amor exige ebulição mesmo imperceptível aos olhos do corpo. Saul não se sentiria amado? Que mais queria que ela fizesse? Que o deixasse crescer sem obrigações, sem projectos, sem objectivos? Que não se certificasse dos resultados, que não interferisse?
Lembra-se do dia em que Saul a chamou neurótica como se tivesse atirado uma pedra a um charco. Agora é assim, os filhos sabem mais que os pais. Mas o avô compreendia-o. Não se podia render

Quanto tempo esteve assim a olhar a cadeira vazia? Não sabe. O sol há muito que foi. Está enregelada. Corre para dentro de casa definitivamente adormecida e sobe ao seu quarto para apanhar um agasalho. A porta esta entreaberta, em cima da cama algo indistinto. Aproxima-se curiosa, sobre a colcha branca uma folha de papel onde reconhece a letra de Saul: Mãe, amo-te muito.

Sem comentários:

Arquivo do blogue

mail